Foto: site oficial da Paróquia de São José Operário

Até outro dia, entre as festas de rua com inspiração paroquial, no sentido da divisão terrotorial das organizações religiosas católicas, havia em João Pessoa a Festa das Hortênsias. Patrocinada pela tradicional Paróquia de São José Operário, no igualmente tradicional bairro de Cruz das Armas, era realizada no mês de novembro.

Nos idos da festa, mudar o trânsito da Avenida Cruz das Armas perturbava, mas ainda não significava provocar o caos na região Sul da Capital, apesar de caminho histórico para o Recife. Havia o parque infantil, como em qualquer festa de padroeira que se preze pelo Brasil afora, com rodas gigantes e carrosséis. E, ainda, algodão doce, pipocas e maçãs do amor, naturalmente.

Mas também os balões inflados a oxigênio engarrafado. Amendoim, cachorro quente e tantas outras guloseimas e iguarias, também, à semelhança de outras festas de rua, na João Pessoa da época. Comuns, naqueles tempos (estamos falando da década de 60, período de maior brilho da Festa das Hortênsias), os bingos eram um espetáculo à parte nas diversas versões do evento.

O apurado destinava-se à paróquia, O mesmo ocorria com os leilões de galeto assado, iguaria que chegava a ser arrematada por quantias bem acima do real valor. Os políticos e a gente mais cheia da ‘bufunfa’ faziam questão de aparecer. Importante observar que o declínio da Festa das Hortênsias coincide com o das demais festas de ruas da Capital paraibana de outrora.

Tempos novos de vias urbanas que se tornaram cada vez mais insuficientes por conta do trânsito crescentemente intrincado. Dessa forma, impedindo, definitivamente, a realização de eventos de povo na rua e parques e barracas de cachorro quente e maçãs do amor, mulheres gorilas e de garrafões de oxigênio enchendo balões amarrados em cordões para a meninada aflita deixar escapulir céu acima.

A escolha da Rainha das Hortênsias e de suas princesas se constituía num dos pontos altos do saudoso evento, um momento de destaque para as jovens participantes. Não consegui saber, apesar de muito pesquisar, porque a festa de Cruz das Armas tinha inspiração em hortênsias. Afinal, João Pessoa não usufrui do clima exatamente propício ao cultivo da flor, em volume capaz de torná-la um símbolo particular da cidade.

Descobri, no entanto, que em Gramado, Rio Grande do Sul, cidade com forte influência alemã, e de clima altamente benéfico à flor, também numa Paróquia de São José Operário, existe uma consagrada Festa das Hortênsias, que acabou produzindo o badaladíssimo Festival de Cinema de Gramado.

Como houve o esforço de alemães na construção da Igreja de São José Operário, de Cruz das Armas, provavelmente ocorreu a transferência do costume gaúcho para as terras pessoenses. Pura desconfiança, apenas, que pode ser confirmada, ou desmentida, por algum leitor mais bem informado. Como era bacana a Festas das Hortênsias em Cruz das Armas!

 

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Sérgio Botelho