Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Escola de Datilografia Solon de Lucena - Por Sérgio Botelho

É gozado você observar a reação de qualquer jovem, hoje em dia, ao ser apresentado, assim, de supetão, a uma máquina de escrever. E não precisa ser tão jovem, não. Com 30 anos já é o bastante. Porém, com grande imponência, até o final da década de 1970, reinaram as escolas de datilografia, com cursos normais de seis meses, e uma hora diária de aula, para que o cidadão se aprimorasse no ofício de datilografar textos em máquinas de escrever criadas perto da década de 1870.

Foto: Divulgação

É gozado você observar a reação de qualquer jovem, hoje em dia, ao ser apresentado, assim, de supetão, a uma máquina de escrever. E não precisa ser tão jovem, não. Com 30 anos já é o bastante. Porém, com grande imponência, até o final da década de 1970, reinaram as escolas de datilografia, com cursos normais de seis meses, e uma hora diária de aula, para que o cidadão se aprimorasse no ofício de datilografar textos em máquinas de escrever criadas perto da década de 1870.

Sem puxar brasa para minha sardinha, apenas usando de privilegiada experiência pessoal, permito-me lembrar com saudade e profunda reverência da Escola de Datilografia Solon de Lucena, que funcionava, inicialmente, na Arthur Aquiles, 76, e pertenceu à minha mãe, Ivete Botêlho, por muitos anos. Nasci e me criei – já que a escola funcionava em nossa própria residência – sob o barulho característico dos teclados das máquinas de escrever.

Hermes, Underwood, Olivetti e Remington eram algumas das marcas mais famosas da época, que compunham a Solon de Lucena. Minha mãe não era a única a ter uma escola de datilografia, em João Pessoa. Escola de Datilografia Padre Azevedo era outra. Sindicatos e algumas entidades assistencialistas e confessionais também ofereciam curso de datilografia. O Instituto Padre Zé Coutinho abrigava um deles.

O curso de datilografia possuía forte viés econômico, já que qualquer concurso público supunha datilógrafos hábeis o suficiente para vencer uma prova a exigir normalmente 180 toques por minuto, que melhor seria cumprido se o cidadão conseguisse a tarefa olhando apenas para o texto, e, não, para o teclado. Afora isso, atuavam os nervos. Era tão importante o curso de datilografia que, ao final dele – ao menos, trabalhava assim a Solon de Lucena – havia festa de formatura, algumas das vezes, no Clube Astrea, preparado com pompas, circunstâncias, ternos e vestidos longos.

Lembro de uma excursão a Fortaleza, programada para comemorar o final de um curso desses de seis meses, da Solon de Lucena, com três dias de ida, três dias de volta, e três dias na capital cearense, dentro de uma marinete. Com oito anos de idade, acompanhei os concluintes. Viagem inesquecível, com todo o trajeto, pelos sertões da Paraíba e do Ceará.

O diploma de datilógrafo, quem sabe, com o cidadão atingindo a categoria de “bom ou excelente datilógrafo”, abria as portas para um emprego de escritório, de banco ou, supremo desejo, em um órgão público federal ou Banco do Brasil ou Banco do Nordeste, com futuro garantido. Minha relação com as máquinas de escrever continuou pelas redações de jornais, barulhentas, nervosas, esfumaçadas, e dominadas completamente pelo barulho das teclas. Para meus ouvidos, música, pois eram bulícios familiares demais.

Hoje, predominam os computadores pessoais, silenciosos, mas sem os encantamentos poéticos das antigas máquinas de escrever, de onde vicejaram tantas obras literárias e poéticas formidáveis.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba