Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Em tempos de alto-falantes - Por Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Em tempos de alto-falantes - Por Sérgio Botelho

Até o final da década de 1950, pelo menos, João Pessoa ainda não tinha o aparelho de rádio como um bem amplamente disseminado nas casas. Certamente, o cenário já era outro em comparação com décadas anteriores, quando a Rádio Tabajara começou a operar, em 1937. Mas possuir um aparelho de rádio ainda era privilégio de poucos, que tinham, também, de providenciar antenas externas. Por isso, nos momentos em que o mundo parecia se contrair para caber no alcance das ondas sonoras, a cidade se agrupava debaixo dos alto-falantes espalhados pelos espaços públicos. Lembro bem que durante a Copa do Mundo de 1958, a primeira conquistada pelo Brasil, quando vivia meus 8 anos, alto-falantes do tipo “cornetão”, instalados no Ponto de Cem Réis, ganharam protagonismo na irradiação dos jogos. Instalados ali para que um público maior pudesse acompanhar as partidas disputadas na Suécia, eles amplificavam as narrações dos locutores de outras plagas, captadas pela Rádio Tabajara e retransmitidas para os alto-falantes, com audição sofrível. É que o som chegava distorcido, cheio de interferências, como se os gols e lances decisivos precisassem atravessar oceanos de chiados para alcançar os ouvidos ansiosos dos torcedores. Era serviço! Ainda assim, a precariedade técnica não impedia o fervor popular. Nos bares e em todos os espaços da praça, os presentes se debruçavam sobre as palavras dos narradores, tentando decifrar, entre ruídos e silêncios, os movimentos do escrete canarinho. Havia sempre alguém com a audição melhor para captar e interpretar os sons mal propagados, traduzindo para os demais o que estava acontecendo na Europa. Quando finalmente a voz do locutor conseguia romper as barreiras do ruído e exclamava o tão esperado “gol!”, não havia dúvida: a praça explodia em foguetões, gritos, abraços e palmas. O rádio, embora com transmissões locais ainda tão imperfeitas, cumpria seu papel de unir a cidade em torno de um mesmo acontecimento.

Na foto, um antigo alto-falante.