Sérgio Botelho – Em meados dos anos 1960, um crime abalou a sociedade pessoense. Em meio a tortura pesada, em um organismo repressivo da época chamado Polícia Mirim, foi assassinada uma menina de 14 anos, de nome Maria de Lourdes. A criança fora presa após denúncia da patroa, que a acusava do roubo de uma joia, que, depois de sua horrível morte, se achou na própria casa da denunciante. Hoje, o túmulo de Maria de Lourdes, à direita da entrada do Cemitério Senhor da Boa Sentença, é um dos mais visitados daquele local de sepultamentos.
Na época, a Rádio Arapuan revolucionava o radiojornalismo paraibano sob o comando dos irmãos Otinaldo Lourenço (já falecido) e José Otávio de Arruda Melo (esse, vivíssimo, historiador consagrado, tendo me encontrado com ele, nesta quinta-feira, 10, à noite, no lançamento dos livros de Hildeberto Barbosa Filho e de Maria das Neves Franca, na Academia Paraibana de Letras). Entre os programas noticiosos mais populares da emissora havia o “Dramas e Comédias da Cidade”, comandado pelo lendário repórter Enoque Pelágio, morto em um desastre de automóvel em 1987, aos 53 anos.
O horário do programa, 21 horas, era dedicado à área policial, e outras correlatas que, ao sentir de Pelágio, ferissem a moral e os bons costumes. O que, algumas vezes, limiava o exagero. Mas foi ele, o comandante do “Dramas e Comédias da Cidade”, quem denunciou repetidamente o crime, para ciência da opinião pública da cidade.
No fim de tudo, a criança, hoje, uma santinha adorada, é que perdeu a vida, daquela forma cruel. Punição, zero! Claro, que não por culpa do repórter! Pelágio foi o repórter/apresentador de rádio mais popular da época, e seu programa, campeão de audiência. Tanto assim que, em 1973, conseguiu se eleger vereador em João Pessoa, embora não tenha alcançado, já que fora do rádio, a renovação do mandato. Em 1983, foi homenageado pela Associação Paraibana de Imprensa, ao completar 20 anos de profissão.
Feita por Ortilo (A União-abril/1983), a foto de Pelágio, naturalmente envelhecida, é de uma entrevista dele ao jornalista Sebastião Lucena.