Foto: Reprodução
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A questão do abastecimento d’água e saneamento público acompanhou a existência da capital paraibana por mais de 300 anos, a partir de sua fundação no final do século XVI. Eram comuns as cenas de dejetos jogados nas ruas, por falta de saneamento. Então, se tornavam comuns doenças como diarreia, cólera, hepatite, parasitoses intestinais e endemias diversas, com elevada estatística de mortalidade infantil.

Os dois problemas somente começaram a ser resolvidos no governo João Machado, entre 1908 e 1912, a partir da contratação do engenheiro fluminense Saturnino de Brito, famoso no Brasil inteiro. Antes disso, com relação à água, a cidade se abastecia por meio de coleta feita diretamente em fontes, bicas e cacimbas, e transportadas em latas ou ancoretas escoradas em lombos de jumentos e burros até as casas. Entre as fontes de água mais famosas da cidade destacaram-se, em períodos diversos, as bicas dos Milagres (no caminho entre as cidades baixa e alta), do Gravatá (na Maciel Pinheiro) e de Tambiá (no atual Parque Arruda Câmara), e ainda a Cacimba do Povo (nas Trincheiras).

De todas, a mais antiga é a Bica dos Milagres (hoje emparedada), na atual Rua Augusto Simões (originalmente chamado Beco dos Milagres), bem próxima da Ladeira São Francisco, justamente por onde a cidade subiu a partir do Porto do Capim. Foi ela a principal responsável pelo abastecimento d’água desde a fundação da cidade, mas que somente ganhou adornos e feições mais urbanas no século XIX.

O sítio pertencia, ainda em finais do século XVI, aos beneditinos. A Bica dos Milagres é hoje um exemplo do descaso com que as sucessivas administrações republicanas infelizmente trataram a preservação dos nossos marcos históricos. Segundo o Memória João Pessoa, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade da Paraíba, a quem sempre recorro enquanto fonte de informação, “a fachada possuía duas torneiras de bronze, ladeadas por pilastras de pedra com capitéis, e rematada por cornija em semicírculo, na qual estava gravada a data da sua conclusão- 1849, e o Brasão de Armas do Império, que após a Proclamação da República foi retirado, supostamente a mando da diretoria do Colégio de Nossa Senhora das Neves”.

Hoje é parte da parede de uma casa, cuja percepção é até difícil, porque está irreconhecível enquanto fonte que ofertou vida à cidade em sua idade mais tenra.

(A fonte dos Milagres foi palco de um bárbaro assassinato praticado por um frade franciscano de nome Frei José de Jesus Cristo Maria Lopes, relatado pelo historiador Wellington Aguiar, de saudosa memória. Na madrugada de 31 de julho de 1801, esse frade, residente no Convento Santo Antônio, por ciúme, matou por empalação sua amante Tereza. José de Jesus e Tereza, conforme consta, costumavam tomar banho na bica altas horas da noite. O horroroso crime abalou a pequena cidade de Parahyba do Norte, à época).

(A foto, do Youtube, revela a total descaracterização do local em que um dia jorrou água para abastecer a capital paraibana. Com algum esforço, ainda é possível ver, de bem próximo, a data de seu último adornamento.)