Atendendo pedido de um velho amigo meu, escrevo hoje sobre o Bairro do Rangel/Varjão, tema que lhe foi sugerido por outra pessoa, no caso, de sobrenome Rangel.
As primeiras habitações surgiram na primeira metade do Século XX (14 de julho de 1937 é tida como data reconhecida para marcar a fundação do bairro). Virou, assim, destino de muitos despossuídos, que cada vez mais numerosamente iam chegando à capital paraibana em expansão, especialmente vinda do campo e da seca.
A opção de moradia a parte desse povo foi justamente aquela margem direita do Rio Jaguaribe, junto à Mata do Buraquinho, onde havia possibilidade de morar e plantar para sobrevivência.
Pela proximidade com o centro de João Pessoa, a comunidade cresceu rapidamente naquele fértil varjão ou várzea. Juntando pobreza, ausência de infraestrutura, falta de oportunidade de emprego, ganhos irrisórios, arremedos de moradia, insalubridade e cada vez mais gente na mesma condição, o local expôs parte da população à marginalidade como forma de sobrevivência, ao longo da história.
Vinham dali frequentes notícias de violência, comumente, muito exploradas, ao tempo que a maioria das pessoas procurava sobreviver, apesar dos pesares, dignamente. Culminando com o assassinato de uma família inteira, por parentes vizinhos, em 2009, no que ficou conhecido como “Chacina do Varjão”.
A ocupação de áreas vizinhas por novos loteamentos destinados à classe média, terminou levando à adoção, não oficial, do nome Bairro do Rangel, buscando melhorar a visão que se formou na cidade sobre o local.
De onde vem o nome Rangel, apresento pistas: em 12 de outubro de 1955, o governo federal, por meio do decreto 38.064, declarou de utilidade pública, para desapropriação, terreno com área aproximada de 72.800 m², adjacente ao Quartel do 15º Regimento de Infantaria, de propriedade de Maria José Rangel Travassos, portanto, em região próxima ao rio Jaguaribe; em 09 de outubro de 2008, o governo estadual, por sua vez, declarou de utilidade pública, para desapropriação, terreno urbano medindo 480,0 m², localizado no Bairro do Cristo Redentor, pertencente a herdeiros de Maria José Rangel Travassos, visando a regularização da área onde se encontrava em construção a Estação Elevatória V pertencente ao Sistema de Esgotamento Sanitário dos Bairros Cristo/Rangel, na cidade de João Pessoa.
Dona Maria José era, muito provavelmente, viúva de um senhor de sobrenome Rangel, proprietário de terras na região, não apenas de um estábulo, conforme dizem. Ciranda, tribos indígenas de tradição carnavalesca, blocos A La Ursa, o Maracatu Maracastelo, coco de roda e atividades de aprendizado circense, sob a proteção de São Francisco das Chagas, padroeiro do bairro, constroem a identidade do Varjão, nome oficial do bairro, de maneira singular na cidade de João Pessoa, mostrando a resiliência de um povo disposto a ser feliz, no que pesem as adversidades.
(A imagem, do Google Maps, mostra a localização inteira do Varjão/Rangel, em cor mais clara. O espaço à direita da foto é da Mata do Buraquinho)
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba