Nesses dias falei sobre a familiaridade do ambiente cultural paraibano com o cinema nacional, seja por meio das paisagens, das histórias retratadas, de atrizes e atores ou da ação criativa de cineastas produzindo no estado.
Uma das primeiras expressões do que estou falando foi o documentário, de curta-metragem, “Aruanda”, do aplaudido pernambucano de Ferreiros, radicado na Paraíba, Linduarte Noronha, com assistência de Vladimir Carvalho e João Ramiro Mello, ambos paraibanos de nascimento, a mesma dupla do posterior Os Romeiros da Guia, que já abordei.
Relacionado entre as 11 fitas brasileiras mais importantes, na categoria, pela Associação Brasileira dos Críticos de Cinema, a Abraccine, “Aruanda” é reconhecido também como marco do Cinema Novo, um movimento estético e de predominante visão social, reconhecido mundialmente à época do Neorrealismo italiano e da Nouvelle Vague francesa, que revolucionou o cinema feito no país.
O filme, inteiramente paraibano, apenas montado nos laboratórios da Líder Cinematográfica, no Rio, mistura elementos documentais e ficcionais para apresentar a realidade de moradores do Quilombo do Talhado, em Santa Luzia, no interior do estado.
A narrativa se ocupa do dia a dia desses moradores, em suas atividades cotidianas, como a produção de utensílios de barro e cultivo da terra, retratando as dificuldades enfrentadas pela comunidade, que luta pela subsistência em meio à pobreza e ao isolamento.
Aruanda é um termo de origem afro-brasileira, oriundo de tradições religiosas como a Umbanda e o Candomblé. É considerado lugar de paz, luz e harmonia, semelhante a um paraíso espiritual, para onde vão as almas após a morte física, de acordo com as referidas crenças.
O filme de Linduarte surge na esteira da criação, na década de 1950, da Associação de Críticos Cinematográficos da Paraíba, e do cineclubismo, com resultados nacionalmente reconhecidos a partir da década de 1960, ano em que Aruanda foi apresentado oficialmente, cativando o público nacional.
Para quem quiser, a histórica fita pode ser vista no YouTube, apesar de as imagens não terem a perfeição desejada.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba