Não tem motorista que se lembre de ter sido multado pelo policial de trânsito Antônio Augusto da Silva, o popularíssimo, até hoje, “Apito de Ouro”. Preferia aproveitar a ocasião para transmitir regras de trânsito, geralmente no cochicho, bem baixinho!
Lembrando que em seu tempo o serviço de ordenamento do trânsito em João Pessoa era feito por um segmento específico da Polícia Militar. Apito (olha a intimidade!) exerceu suas funções com maior destaque nas décadas de 1960 e 1970, e virou atração não só para os da cidade, como também para os visitantes. Pense num trabalhador que gostava do que fazia! Dava um show, quase sempre no circuito do centro da cidade.
Armado com o apito e seus silvos, ele comandava motoristas e pedestres num trânsito cada vez mais complicado na capital paraibana. Não seria demais compararmos a coreografia de “Apito de Ouro” ao personagem Carlitos, idealizado e interpretado pelo genial Charles Chaplin. Seus singulares movimentos em serviço eram um espetáculo!
Como se trata de uma descrição perfeita, abro espaço para o que diz o site A Briosa, da Polícia Militar da Paraíba, sobre os movimentos do então soldado Antônio Augusto: “Ele ficava no centro do cruzamento, de frente para um fluxo de veículos, levantava o braço direito, dava um apito longo e abria os dois braços, fazendo os veículos pararem. Feito isso, ele fazia o movimento de direita volver, e ficava de frente para o outro fluxo, segurava o apito com a mão esquerda, ficava emitindo apitos intermitentes, e, depois, com os dois braços acenava para os carros seguirem em frente. Ele ficava no meio da rua e os carros passavam por um lado e por outro dele. Aí ele parava de apitar e passava a cumprimentar todos os motoristas com acenos e sorrisos”.
Antes que esqueça, o apito de ouro lhe foi conferido não por alguma entidade oficial, mas pela sociedade civil organizada e por seus colegas da PM que, espontaneamente, lhe outorgaram o apelido, ao qual ele atendia com orgulho e presteza, e até uma réplica física dourada do apito que lhe serviu de instrumento de trabalho a sua vida profissional inteira. A fama do nosso personagem alcançou o estado todo.
Tanto assim que na década de 1980 atendeu a convites de cidades do interior paraibano para difundir seu trabalho e as regras de trânsito, geralmente acompanhado por multidões. Um trabalho que divertia e ensinava, portanto. Apesar das pouquíssimas letras, era um sábio.
Querem se convencer, leiam o pensamento a seguir, pois é dele: “… não é o castigo ou a autoridade que vai fazer com que ele não faça a coisa errada. É a advertência. O Brasil não quer violência, não quer guerra, quer paz, … e muito amor”.
O cabo (patente que conseguiu ao se aposentar) Antônio Augusto, um verdadeiro general do trânsito pessoense, faleceu em 28 de abril de 2019, aos 76 anos, de falência múltipla dos órgãos. Em seus tempos de muito sucesso, lhe ofereceram uma candidatura a vereador, rejeitada de pronto.
Seu maior desejo era ser delegado de trânsito, sonho que ele considerou inalcançável por conta de suas poucas letras. Em seu louvor, até onde sei, há um auditório em um dos organismos da polícia militar que ostenta o seu nome.
Um nome para sempre na saudosa memória dos que o viram trabalhar nas ruas de João Pessoa, para nunca mais outro igual!
(A foto foi copiada do site A Briosa, da Polícia Militar da Paraíba)
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba