No mais recente post, falamos sobre as cartas trocadas entre os primos Diogo Camarão e Pedro Poty, este, paraibano de Baía da Traição.
Poty, escapando do massacre português sobre sua tribo, em 1625, foi um dos potiguaras que esteve na Holanda, entre aquele ano e 1631, onde aprendeu a ler e a escrever em holandês, mas também no tupi antigo. Dessa maneira, se constituiu em destacado aliado dos batavos, durante o período da dominação holandesa.
Chegou a ser Regedor da Nação Brasiliana na Paraíba. Era primo de Diogo Camarão e de Felipe Camarão, aliados dos portugueses. Infelizmente, episódios mais detalhados da vida de Poty não são conhecidos, uma vez que fez parte da ala que resistiu ao domínio português, e a história normalmente é construída pelos vencedores. Mas não se limitou a uma carta apenas a correspondência entre Poty e os primos Camarão.
Segundo dizem os estudiosos dos respectivos arquivos, ele sempre buscava exaltar o calvinismo, religião à qual havia aderido – diferentemente dos primos, adeptos do catolicismo -, além de valores como liberdade e pátria. Poty tomou parte da segunda Batalha dos Guararapes, em 1649, quando, vitoriosos, os portugueses o prenderam e o enviaram a Lisboa, a fim de ser julgado pela Santa Inquisição.
Morreu em pleno Atlântico, no navio que o conduzia a Portugal, em meio a muita tortura, segundo descrições da época. A história de Poty nos leva a repensar os conceitos de brasileiros heróis e traidores, nessa época, baseados, tais conceitos, na posição que cada um tomou na briga entre holandeses e portugueses, ambos invasores.
Calabar, por exemplo, até hoje, por sua posição em favor dos neerlandeses, é repassado às novas gerações como alguém muito parecido com o Judas da Bíblia.
Em agosto de 2012, Antônio Felipe Camarão, o primo de Poty, como já disse, que atuou ao lado dos portugueses, foi inscrito, pelo governo brasileiro, no Livro dos Heróis da Pátria.
Poty, não. Acho que já era tempo de rever esses critérios de julgamento histórico, bem longe de suas complexas conjunturas e, portanto, de não muito simples interpretação.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba