Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: A sempre pranteada Churrascaria Bambu - Por Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: A sempre pranteada Churrascaria Bambu - Por Sérgio Botelho

Não lembro na história de João Pessoa de uma construção mais ecológica do que a Churrascaria Bambu. Quase tudo lá era feito da planta bambu, em meio a um belo bambuzal naquele pedaço do Parque Solon de Lucena, na altura da antiga rua São José, atual Souto Maior, à margem do anel interno da Lagoa. Harmonia total. Funcionou de forma plena até o ano de 1973, quando a Prefeitura de João Pessoa mandou derrubá-la, em meio a uma reforma no logradouro, para desgosto de um enorme contingente de pessoas que simplesmente adorava o local. Do outro lado, no parque, restou o Cassino da Lagoa, bem longe do sucesso da Bambu, mesmo depois da queda. Explicações para o ato extremo, especificamente com a churrascaria, havia poucas, com o auxílio luxuoso do momento ditatorial que atravessávamos, o que limitava as iniciativas contestatórias contra atitudes de qualquer instância de poder. Um crime ocorrido nas redondezas da churrascaria, dois anos antes, serviu de explicação social e moral, sem convencer. O poeta Caixa D’Água, frequentador diário da churrascaria, por exemplo, permaneceu sentado em um dos bancos da Lagoa acompanhando, e chorando, a derrubada de cada vara de bambu. O escritor, professor universitário e crítico literário Virginius da Gama e Melo tinha mesa cativa, onde costumava reunir a excelência da intelectualidade pessoense. Descendente de influente família na política paraibana, sua resistência, porém, não logrou êxito. Jornalistas, juristas, professores, estudantes, desembargadores, da província e de outras plagas, frequentavam a Bambu, mas sem força para impedir o seu fim. Em seu espaço – bem amplo, por sinal – se discutia de tudo, do esporte à literatura e ao cinema e ao teatro e aos negócios e às recitações poéticas. Nesse particular, a poesia, especialmente pela presença assídua de Sérgio de Castro Pinto, Marcus Vinícius e Marcos Tavares, vale dizer, da Geração Sanhauá, encantava o ambiente. Por outro lado, em 1968, na conquista do Campeonato Paraibano, em plena Festa das Neves, a celebração popular foi na Bambu, patrocinada pelo presidente do clube, à época, o ex-deputado Assis Camelo. Um festão. O tempo era de domínio quase absoluto do Cuba Libre, um drink que mistura Ron Montilla (de preferência, embora, muito raramente, o Bacardi), com Coca-Cola. Porém, sem desbancar a tradicional cerveja, preferência absoluta de Caixa D´Água que, mesmo convidado (o poeta não tinha dinheiro), em qualquer que fosse a mesa, não aceitava outra bebida senão a velha cerva. Se o queriam na mesa, tinha de ser assim. O galeto assado servia bem à maioria dos fregueses, destacadamente os boêmios. Entre os garçons, Zé Paulo, que já havia pilotado empreendimento boêmio no Varadouro, era muito festejado. Em meio às negociações pela derrubada, o proprietário, Domingos Monteiro, ganhou espaço no Parque Arruda Câmara onde instalou o Paraibambu, sem o mesmo sucesso. Iniciativas outras no campo das amplitudes de espaço, como o Olivio’s, as churrascarias de Bob e Quebec Souto Maior, na Torre, ou a do angolano. altamente pessoense, Fred (depois Adega do Alfredo), também na Torre, recompuseram, em parte, a dimensão da Churrascaria Bambu. Porém, igual à Bambu, só mesmo a Bambu.

(A foto são, pela ordem da Bambu em seus tempos de glória, pertencente à coleção da família Stuckert. A outra, de uma mesa na churrascaria, capitaneada pelos saudosos jornalistas Biu Ramos e Jório Machado, publicada em A União.)