É instigante a foto do interior do Teatro Santa Roza que ilustra a matéria, pertencente ao acervo do Museu da República, datada de 1921. Primeiro, pela própria imagem do espaço físico, a revelar um Santa Roza apetrechado para comportar uma tela de exibição cinematográfica e exercer o papel de um cineteatro (para utilizar a grafia contemporânea), o que efetivamente aconteceu por 30 anos da primeira metade do Século XX, incluindo a década de 1920.
Depois, pelo seu significado histórico, um flagrante do ex-presidente Nilo Peçanha em plena campanha para voltar ao comando do governo federal, na eleição que aconteceria em 1º de março do ano seguinte. Nilo (1867-1924), inquestionável liderança política nacional naquele início do Século XX, havia governado o Brasil entre 14 de junho de 1909 a 15 de novembro de 1910, após a morte do titular Afonso Pena (1847-1909), tendo sido (Nilo) considerado o primeiro descendente afro a assumir a Presidência da República, o que nem ele nem seus correligionários assumiam por ser motivo de frequentes achincalhes da parte de adversários, confirmando o racismo brasileiro de sempre.
Na ocasião da foto, tendo como candidato a vice o governador baiano José Joaquim Seabra (1855-1942), Peçanha liderava um movimento denominado Reação Republicana, que acreditava poder derrubar eleitoralmente a política vigente na Primeira República, liderada por São Paulo e Minas Gerais, na base de uma intensa propaganda eleitoral pelo Brasil adentro (tanto Nilo Peçanha quanto Seabra passaram a nomear, até hoje, municípios baianos).
O detalhe é que na Presidência da República, nessa época, estava o paraibano de Umbuzeiro Epitácio Pessoa (1865-1942), que tinha como candidato à Presidência o mineiro Arthur Bernardes (1875-1955), enquanto na Presidência da Paraíba dava as ordens o bananeirense Sólon de Lucena (1877-1926), primo em segundo grau de Epitácio (na ascendência comum, o Barão de Lucena, nascido Henrique Pereira de Lucena), e na Prefeitura de João Pessoa o conterrâneo e aliado de Solon, Walfredo Guedes Pereira (1882-1954).
E tem mais: Nilo Peçanha foi quem indicara a candidatura do baiano Rui Barbosa (1849-1923) que enfrentou Epitácio no pleito presidencial de 13 de abril de 1919. Dessa forma, a Paraíba se apresentava como território hostil às pretensões da Reação Republicana. Peçanha que, apesar de tudo isso, teve à sua disposição o Santa Roza, chegou à capital paraibana em meio a uma peregrinação que incluía outras capitais nordestinas, crente na sua estratégia de ir direto ao eleitor para derrotar o esquema oficial.
Em sua dissidência, a Reação Republicana não estava tão sozinha, assim, pois contava com os apoios dos estados de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco, e do Distrito Federal.
Segundo documento do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (Cpdoc), os pontos básicos do ideário da Reação Republicana “eram a crítica ao processo adotado pelos grandes estados para a escolha do candidato à presidência, a reivindicação de maior autonomia para o Legislativo frente ao Executivo e a exigência de maior credibilidade para as forças armadas, que no governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) haviam sido afastadas da chefia das pastas militares”.
Não deu certo a estratégia. Depois de apuradas as urnas em março de 1922, Arthur Bernardes foi eleito com 59,46% dos votos. Mas fez muito barulho a dissidente Reação Republicana, cacifando Nilo Peçanha a seguir como forte líder no cenário político nacional, não fosse uma cirurgia a que se submeteu, em 1924, que de tão arriscada o matou.
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba