Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: A Paraíba e os cristãos-novos - Por Sérgio Botelho

Em nossa última postagem memorial falamos sobre a chegada a Pernambuco do cristão-novo (quer dizer, um judeu forçadamente convertido ao cristianismo

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: A Paraíba e os cristãos-novos - Por Sérgio Botelho

Em nossa última postagem memorial falamos sobre a chegada a Pernambuco do cristão-novo (quer dizer, um judeu forçadamente convertido ao cristianismo, pelos cruéis métodos utilizados pela impiedosa Inquisição Católica), João Nunes da Costa, que acabou por inscrever descendentes na gênese da poesia popular nordestina, contribuindo para a origem de novos troncos familiares, como foi o exemplo da família Ugulino, ainda no Século XIX, a partir do exímio poeta repentista Antônio Ugolino Nunes da Costa, nascido em Teixeira e posteriormente casando e vivendo na região de Várzea de Santa Luzia, ali se firmando como importante pioneiro do gênero no Nordeste.

Os cristãos-novos, como os Nunes da Costa e tantos outros, ao se dispersarem pelo interior do Brasil contribuíram significativamente para moldar aspectos culturais, sociais e econômicos dos sertões nordestinos.

Embora fossem obrigados a renunciar publicamente à fé, muitos continuaram praticando o judaísmo em segredo, formando comunidades em diversas partes do Nordeste. (Ainda permanece no imaginário popular da Paraíba a trágica história da cristã-nova Branca Dias, que já contamos, cruelmente queimada viva nas fogueiras do Santo Ofício, em ato de fé).

Embora as influências judaicas tenham se diluído com o tempo, alguns traços culturais e familiares se mantiveram, especialmente entre descendentes de cristãos-novos. Nos Sertões, onde vivenciaram natural processo de miscigenação, muitas vezes atuaram como intermediários comerciais, administradores e proprietários de engenhos e criadores de gado, atividades fundamentais para o desenvolvimento econômico da região.

Não é raro encontrar, em tradições sertanejas, ecos de práticas judaicas, como o cuidado com a preservação de costumes, o uso de símbolos ancestrais e até hábitos alimentares que resistiram em adaptações locais.

Esses traços, embora frequentemente não reconhecidos como de origem judaica, ajudaram a consolidar a identidade sertaneja, evidenciando o papel dos cristãos-novos na construção de um Nordeste plural e diverso.

Ao lado disso, a habilidade de adaptação desses grupos, unindo raízes culturais profundas a novas realidades, criou um legado único, objeto permanente da pesquisa acadêmica, visando o seu amplo estudo e valorização.

Na imagem, “A Expulsão dos Judeus”, por Roque Gameiro (Quadros da História de Portugal, 1917), publicado pela Wikipédia.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba