No Brasil, país marcado por uma rica tradição cultural e religiosa, a diversidade é característica social genética. No entanto, essa diversidade também se torna campo fértil para o preconceito e a intolerância, especialmente contra religiões de matrizes africanas.
Expressões profundas da cultura afro-brasileira, seus devotos enfrentam, contudo, níveis desproporcionais de discriminação e violência, refletindo um legado histórico de racismo e exclusão. Trazidas para o Brasil pelos africanos escravizados, essas práticas religiosas sempre foram estigmatizadas, marginalizadas e frequentemente associadas a estereótipos negativos.
A discriminação, dessa forma, é um fenômeno profundamente enraizado na história do país, desde o período colonial, atravessando os séculos de escravidão, e persistindo até os dias atuais, mesmo após a abolição da escravatura e o advento da República. Mas, em contraste, provocando resistência e resiliência dessas tradições religiosas, numa contínua luta contra o preconceito e a marginalização.
Aqui e acolá, o Estado intervém. No último dia 21 de março, por exemplo, aniversariou uma lei, assinada pelo presidente Lula, em 2023, que instituiu o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, em mais uma ação oficial na tentativa de enfrentar injustificáveis preconceitos religiosos.
Na Paraíba, há um corte no tempo, de caráter institucional, que merece ser lembrado pela sua importância. Em uma época de repressão oficial efetiva contra as heranças religiosas africanas, o então governador João Agripino e o babalorixá Carlos Leal Rodrigues protagonizaram significativa mudança nessa história. Em 6 de novembro de 1966, Agripino assinou a Lei 3.443 liberando o culto às religiões africanas na Paraíba, e Leal, com luxuoso auxílio da santarritense Mãe Rita Preta, pôde então oficializar a Federação dos Cultos Africanos no estado, incorporando o catimbó e a jurema, de influência indígena.
Logo a seguir, em 8 de novembro daquele mesmo ano, foi realizada a primeira grande festa de Iemanjá, mãe de quase todos os orixás, tendo como espaço livre de manifestações, a ela dedicadas, as praias do litoral paraibano. Os Orixás são divindades das religiões de matrizes africanas, principalmente no Candomblé e na Umbanda, representando forças da natureza e aspectos da condição humana, cada um com suas próprias personalidades, histórias e esferas de influência. Contudo, mesmo com o fim da repressão policial, os preconceitos não acabaram.
Diferentemente disso, eles persistiram, haja vista os constantes atos de vandalismo contra os símbolos religiosos do candomblé e da umbanda, no estado, até os dias atuais. O mais gritante exemplo disso está no criminoso ataque, perpetrado há alguns anos, à estátua de Iemanjá, na Praia de Cabo Branco, que deixou mutilado o monumento de fé.
Além de outras, muitas outras agressões no dia a dia. Apesar de tudo, a luta contra a perseguição e pela aceitação das religiões de matrizes africanas, no Brasil, como um todo, e na Paraíba, em particular, é exemplo vivo da resistência cultural e espiritual dessas comunidades. Elas continuam a lutar não apenas pela liberdade de expressão religiosa, mas também pelo reconhecimento de seu papel vital na formação da identidade cultural brasileira.