No dia 16 de janeiro de 1913, estimulados pelo então governador João Pereira de Castro Pinto (1863-1944), que presidiu o Estado da Parahyba do Norte entre 22 de outubro de 1912 e 24 de julho de 1915, intelectuais paraibanos criaram uma tal Universidade Popular, que deveria cumprir funções acadêmicas na capital do estado.
Apesar da inserção oligárquica, escolhido para governar o estado quando cumpria mandato no Senado da República, Castro Pinto (tio-bisavô do nosso contemporâneo poeta Sérgio de Castro Pinto) fazia diferença pela formação intelectual e compromisso com as letras e a educação em geral.
(Prova de seu engajamento com a cultura, e de sua visão humanista, foi ele quem escreveu o prefácio ao livro de poesia, Algas, do poeta de origem negra, Eliseu César, nascido na Parahyba, atual João Pessoa, que viria a fazer muito sucesso no mundo político e intelectual brasileiro, a partir do Rio de Janeiro, capital da República, como advogado, jornalista, político, poeta e orador, em tempos de consolidação do regime republicano, apesar de ter o ilustre cidadão existido numa sociedade marcantemente racista, recém liberta do regime escravagista).
O nome de Castro Pinto, para presidir o estado, surgiu como solução conciliatória na disputa entre Antônio Pessoa (irmão de Epitácio Pessoa, que comandava a política paraibana, e logo seria eleito à Presidência da República) e monsenhor Walfredo Leal (que já havia governado a Paraíba, também exercendo, naquele instante, o cargo de Senador da República).
Considero que, entre as providências tomadas em favor da educação na história paraibana, o simbólico ato de criação da Universidade Popular tem lugar de destaque. Em última análise, na data já referida no início do texto, foi efetivamente realizada, no Teatro Santa Roza, com todas as pompas e gravidade, a sessão preparatória de criação da referida instituição, com direito à escolha de sua direção.
Nesse particular, coube a presidência efetiva ao desembargador José Ferreira de Novaes, e a honorária ao próprio presidente do estado. Também foram eleitos quatro vice-presidentes, dois secretários e um tesoureiro. Enfim, acabou nomeada uma comissão organizadora de conferências sobre temas diversos, da cultura, de modo amplo, à economia e ao direito, a cargo das figuras mais letradas na então cidade de Parahyba, que eram muitas.
(Pela nominata publicada em A União, onde certamente não haveria problema para a Universidade Popular seria na escolha do corpo docente). Anote-se, como destaque, a participação de duas mulheres, nesse grupo, defendendo posições de emancipação feminina, em meio a uma atmosfera esmagadoramente masculina, em atitude bastante ousada à época.
Foram elas: Catharina Moura, advogada, escritora e professora, que construiu fama como única mulher formada em Direito (com distinção) de sua turma, na afamada Faculdade de Direito do Recife, e a escritora Ângela Moreira Lima, as duas, participantes da Associação Parahybana pelo Progresso Feminino, merecedoras de todas as homenagens que se possa conceder-lhes pela importância que tiveram, junto com outras mulheres à época, em nossa jornada civilizatória.
A Universidade Popular acabou não se concretizando, de fato e de direito. Apenas quatro décadas mais tarde é que teríamos criada, no governo José Américo, a Universidade da Paraíba. Contudo, a capital paraibana pôde acompanhar excelentes conferências, com pretensões acadêmicas e influência reflexiva, promovidas pelos que se dispuseram a fundar a lamentavelmente interrompida instituição.
Foto do Teatro Santa Roza, onde foi criada a Universidade Popular da Paraíba.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba