PARAHYBA DO NORTE: Uma rua central com dois nomes oficiais em João Pessoa - Por Sérgio Botelho

Há uma rua importante, desde sempre, na urbe pessoense, que homenageia duas figuras de prestígio na história paraibana e brasileira. A via é uma das que ligam a rua Visconde de Pelotas ao Parque Solon de Lucena, abrigando endereços relevantes da cidade, a exemplo os do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e da gerência do Instituto Nacional de Seguridade Social, além de ostentar um intenso tráfego de veículos e de gente. Agora vem a curiosidade: a rua tem oficialmente dois nomes, que homenageiam dois paraibanos ilustres, com sucesso para além do estado, e de origens social e étnica absolutamente diversas. Falo da rua Eliseu César, mas também Barão do Abiahy, local de movimentado comércio de varejo. O primeiro, nascido Eliseu Elias César, sem sobrenome ilustre, não miserável, mas pobre, preto, poeta, jornalista, político, advogado, abolicionista e republicano, tendo até ocupado, na condição de parlamentar, a Assembleia Legislativa do Estado do Pará, um cidadão que enfrentou duras batalhas para se firmar entre os indivíduos de primeira grandeza ao tempo do Brasil monárquico e escravocrata, um período cujos reflexos negativos permanecem até os dias de hoje. O outro, nascido Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, branco, dono de escravos, descendente de família importante, monarquista, rico, possuidor de título nobiliárquico, e político influente em sua época, tendo governado não somente a Província da Paraíba, mas também as do Rio Grande do Norte, Alagoas e Maranhão. Suas existências até se cruzaram no aspecto temporal: quando Eliseu César nasceu, na Cidade da Parahyba (atual João Pessoa), em 21 de julho de 1871, Silvino Elvídio, o barão, natural de Alhandra, mas residente na mesma Cidade da Parahyba, presidia Alagoas. Por outro lado, quando foi abolida a escravidão, em 13 de maio de 1888, e instalada a República, em 15 de novembro de 1889, Eliseu, entre os 17 e os 18 anos de idade, já publicava festejados poemas em jornais paraibanos, enquanto Elvídio, entre os 76 e os 77 anos, ainda exercia influência no estado. A inauguração da República flagrou o jovem Eliseu comemorando e o barão rapidamente aderindo ao novo regime. O fato é que ambos denominam a mesma via e os endereçamentos postais que usem uma ou a outra denominação chegam ao seu destino. Na tentativa de resolver o mistério, segue uma brevíssima história. Quando morámos, eu e a família, na rua Santo Elias, no final da década de 1960, tínhamos amigos que residiam na artéria objeto de nosso memorial de hoje, já bem perto da Lagoa. O endereço da residência deles era Eliseu César. Na época, o trecho entre a rua Treze de Maio e o parque, justamente onde morava a família amiga, era bem mais estreito do que o da Barão do Abiahy de sempre, entre a Visconde de Pelotas e a Treze de Maio,. Assim, pelo que parece o dito trecho, da Treze de Maio ao parque, se chamava Eliseu César. Certamente, após alargado o pedaço e alinhados os meios-fios restou o problema, ao que parece, resolvido de forma salomônica. PS: O IHGP e o INSS mantêm endereços oficiais como Barão do Abiahy.

Nas imagens, fotos nossas da rua entre a Visconde de Pelotas e o Parque Solon de Lucena. A primeira, com direito a placa na esquina com a Visconde de Pelotas, sinalizando Barão do Abiahy, a segunda, da mesma artéria, com placa, na esquina da Treze de Maio, sinalizando Eliseu César. Na terceira imagem, o Google Street View portando as duas denominações para identificar a via)