Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Sociedade dos Artistas e Operários Mecânicos e Liberais - Por Sérgio Botelho

O que resta são partes das paredes, a requintada platibanda a encobrir o telhado, a porta rijamente cerrada e o frontispício onde é possível ler em alto relevo Sociedade dos Artistas e Operários Mecânicos e Liberais Liceu de Artes e Ofícios. O prédio, hoje ocupado por lojas comerciais, está localizado na esquina da Rua Treze de Maio com a Miguel Couto, no centro da cidade.

Foto: Internet

O que resta são partes das paredes, a requintada platibanda a encobrir o telhado, a porta rijamente cerrada e o frontispício onde é possível ler em alto relevo Sociedade dos Artistas e Operários Mecânicos e Liberais Liceu de Artes e Ofícios. O prédio, hoje ocupado por lojas comerciais, está localizado na esquina da Rua Treze de Maio com a Miguel Couto, no centro da cidade.

Organizada, em 1881, sob forma de sociedade de ajuda mútua, a entidade que ali existiu possuía trabalhadores como sócios, como proprietários e como dirigentes. O mutualismo se assentou, no Século XIX, ao lado das trade unions e dos sindicatos, entre as primeiras formas de associações proletárias, especialmente na Inglaterra. No Brasil, chegaram para valer na segunda metade oitocentista, destacadamente o mutualismo.

Importante anotar que naqueles tempos, a escravidão, apesar de ainda vigorar, já era um sistema bastante prejudicado pela pressão internacional e por conta de leis brasileiras que passaram a dificultar sua continuidade, com realce para a Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, proibindo o tráfico. E o capitalismo já andava de rédeas soltas pelo mundo afora, com reflexos cada vez mais fortes no Brasil. Portanto, formava-se já uma camada significativa de trabalhadores livres, que logo buscou se organizar.

Naquele final do século XIX, quando o mutualismo tomou corpo na Parahyba do Norte, até início do Século XX, além da Sociedade dos Artistas e Operários Mecânicos e Liberais, houve na capital paraibana as seguintes organizações comunitárias: União Operária Beneficente; União Beneficente dos Operários e Trabalhadores; Sociedade Beneficente 2 de Setembro; Sociedade Beneficente dos Operários do Saneamento; União Beneficente das Senhoras; União Beneficente dos Proletários da Ilha Índio Piragibe; Centro dos Choferes da Paraíba do Norte; União dos Alfaiates; União Gráfica Beneficente Paraibana; Liga Protetora dos Pintores; Liga Protetora dos Metalúrgicos; Liga Protetora dos Sapateiros; Centro Proletário Beneficente; Aliança Proletária Beneficente; Sociedade Beneficente Alberto de Brito; União Beneficente dos Trabalhadores Ambulantes; União dos Retalhistas; e Colônia de Pescadores Vidal de Negreiros.

Sem falar nas irmandades de pretos e pardos junto às igrejas católicas. Todas elas interessantemente agregadoras em função de se constituírem em estratégias disponíveis e eficazes de sobrevivência. As associações pessoenses relatadas chegaram a se organizar, por volta de 1930, numa entidade batizada de Confederação Operária Beneficente. Sob a égide da COB, as entidades citadas chegaram a sonhar com a construção de um ‘Hospital Proletário’, em João Pessoa, infelizmente sem sucesso.

Embora tenha chegado bem perto de vingar. Enquanto isso, no interior da Sociedade dos Artistas e Operários Mecânicos e Liberais, foco nosso, por ora, estabeleceram-se mecanismos de assistência financeira aos trabalhadores associados e seus familiares, facilitando a sociabilidade e a união entre os que viviam na mesma situação.

Já que os recursos provinham de todos, sob o princípio do mutualismo, criava-se um importante senso de responsabilidade entre eles consolidando a ideia do associativismo e, portanto, de pertencimento a uma classe. Importante porque atuava dentro de uma realidade em que o Estado, monárquico ou republicano ostentava caráter elevadamente excludente. Por fim registrar que a Sociedade dos Artistas e Operários Mecânicos e Liberais atuou até a década de 1980.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba