Nesta sexta-feira, 21, abordamos a duplicidade de nome da artéria urbana que liga a rua Visconde de Pelotas, à altura do antigo cinema Municipal, ao Parque Solon de Lucena, no trecho da final da rua Santo Elias. Como informei, a referida via atende pelos nomes de Eliseu César e Barão do Abiahy. Na oportunidade, alinhavei a biografia de ambos, figuras importantes da história paraibana entre os séculos XIX e XX. Hoje, trago mais informações sobre a história de Eliseu César.
Amanhã, faço o mesmo com o Barão do Abiahy. Pois bem, quando o cidadão paraibano Eliseu César faleceu, ainda novo, com apenas 51 anos, em janeiro de 1923, após morte súbita, os jornais do Rio de Janeiro, onde então residia, repercutiram bastante o desaparecimento daquele advogado, jornalista e poeta reconhecido, apesar de negro vivendo numa sociedade racista, em todas essas profissões.
Quem descreve o clima fluminense é o trio de doutores em História pela UFPE, pela USP e pela UFF, Solange Pereira da Rocha, Petrônio Domingues e Elio Chaves Flores, respectivamente, em artigo acadêmico recente (2019) intitulado “As Artes e os Ofícios de um Letrado Afro-Diaspórico: Eliseu César (1871-1923)”. Assim relatam: “’Uma inesperada e triste notícia surpreendeu, hoje, às primeiras horas da manhã: morreu pela madrugada, repentinamente, Eliseu César’, noticiou A Rua. ‘Não é possível traduzir a emoção que por toda a parte provocou essa dolorosa novidade’; Eliseu César era uma ‘figura de grande relevo, quer na imprensa, quer nos meios jurídicos e, ainda, nos meios políticos’, concluiu a reportagem.
Outro diário, A Noite, também salientou que o passamento de Eliseu César foi recebido pela população carioca com perplexidade. No seu enterro, formou-se um ‘grande cortejo’ em direção ao cemitério São Francisco Xavier, do qual participaram ‘familiares, populares, representantes da Associação Nacional dos Artistas Brasileiros, do Centro Republicano Popular, da Associação do Foro; estudantes, rábulas e advogados (como Evaristo de Moraes, João da Costa Pinto e José Anísio), jornalistas (como Raul Pederneiras, Silvino Rolim e Oscar de Carvalho), militares (como o tenente Elídio Moura, o capitão José Joaquim Osório e o coronel Euzébio Martins da Rocha), intendentes municipais (como Nogueira Penido), deputados (como Artur Lemos e Antônio Camilo de Holanda), um representante do ministro da Justiça (major Carlos Reis), um ministro do Supremo Tribunal Federal (Geminiano da Franca), entre outras autoridades públicas’. ‘Sucessor autêntico e racial de José do Patrocínio’, “preto magnífico’, ‘Rui Barbosa Negro’, eram algumas das referências feitas pela imprensa carioca àquele insigne paraibano”.
A transcrição serve para mostrar a grande importância de Eliseu César na capital federal, naquelas primeiras décadas da República. Antes de chegar ao Rio, o paraibano fez sucesso com seus poemas, ainda bem jovem, em jornais da cidade da Parahyba (atual João Pessoa), quando publicou seu livro de poesias “Algas”, foi secretário de Estado e parlamentar no Estado do Pará, para depois desembarcar na capital federal onde gozou de “larga estima em todas as camadas sociais”, conforme, ainda, os jornais cariocas. Portanto, um paraibano ilustre, por onde passou, e que bem merece ser mais conhecido pelos seus conterrâneos, e mais homenageado.
(A imagem reproduz a capa do livro de poemas Algas, de Eliseu César, republicado pela editora Malê)