Ainda lembro de um grande bingo (o jogo virou sinônimo do evento em si) em João Pessoa, realizado na Praça da Independência. A multidão lotava toda a praça, entre a rua Pedro I e a Walfredo Leal (a área inteira servida por autofalantes e fiscais que acompanhavam prováveis sortudos para comunicar ao comando do ato). “Quaraquaquá” queria dizer 44. “De rombo”, algum número redondo, tipo 20, 30, 40. “Dois patinhos na Lagoa” era o 22. Nunca vi tanta gente em um evento desses quanto naquele dia.
O bingo é um jogo de azar onde os apostadores marcam números em cartões ou cartelas conforme são aleatoriamente sorteados e anunciados. O objetivo é completar um padrão pré-determinado de números marcados, como uma linha, coluna, diagonal, ou preencher todo o cartão. Quando o jogador consegue isso, ele declara vitória, geralmente gritando “bati!” A Lagoa (Parque Sólon de Lucena), o Ponto de Cem Réis, a Praça João Pessoa, todos esses logradouros pessoenses serviram de espaço para a realização dos bingos.
Não foram poucos os que provocaram alguma confusão, antes, durante ou depois do evento. Não apenas pelo fato de mais de uma cartela “bater” um dos prêmios, mas também por suspeitas, algumas vezes comprovadas, de falcatruas, pura e simplesmente. Os bingos, contudo, eram verdadeiras “farras”. Tanto mais concorrida era a iniciativa quanto maior fosse o número de prêmios ofertados, com direito a bebidas e comidas particulares.
Recordo-me de um deles com 12 carros. Antes, para garantir a importância do evento, os prêmios eram expostos em algum lugar da cidade, de preferência na Lagoa. Aos domingos, desfilavam pelas praias de Cabo Branco, Tambaú e Manaíra, carro de som à frente, e moças em cima de caminhões e caminhonetes oferecendo as cartelas. Clássicos do futebol paraibano muitas vezes perdiam a concorrência com alguns desses bingos. Sem esquecer, contudo, de casos em que o prejuízo era avassalador.
Muita gente ganhava dinheiro com os bingos, dos promotores, passando pelos impressores das cartelas e carimbadores dos números, até os vendedores, chamadores das pedras, serviços de som, fiscais etc. Contudo, havia reclamações do comércio calculando em até milhões de cruzeiros a evasão de recursos, oportunizada pelos grandes bingos, que as famílias poderiam destinar à compra de gêneros alimentícios.
Cabo Branco e Astrea chegaram a promover bingos dançantes e bingos ‘boite’, com prêmios ofertados pelo comércio e renda revertida a obras filantrópicas ou ao próprio clube. A realização de bingos na Paraíba foi proibida em setembro de 1981 derrubando toda a folia que transitava entre o legal e o suspeito. No mesmo mês de setembro de 1981, três deles ainda ocorreram em João Pessoa.
Os jogos de azar são, na verdade, uma questão complexa com muitas facetas. Enquanto podem oferecer entretenimento e benefícios econômicos, também carregam riscos significativos de vício e problemas sociais. O desafio está em encontrar um equilíbrio entre permitir essa forma de lazer e proteger os indivíduos e a sociedade dos seus potenciais danos.
(A foto é ilustrativa e mostra um bingo em praça pública recentemente realizado pela Prefeitura de Itaenga-PE)
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba