Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: O grupo Sanhauá - Por Sérgio Botelho

Entre os vivos há dois remanescentes do fundamental Grupo Sanhauá, de João Pessoa, especializado, principalmente, em escrever poesias de forma livre e espontânea. Um deles é o poeta e professor Sergio de Castro Pinto e o outro, o maestro e compositor Marcus Vinícius de Andrade (tido por Sergio como o formulador intelectual do grupo).

Foto: Internet

Entre os vivos há dois remanescentes do fundamental Grupo Sanhauá, de João Pessoa, especializado, principalmente, em escrever poesias de forma livre e espontânea. Um deles é o poeta e professor Sergio de Castro Pinto e o outro, o maestro e compositor Marcus Vinícius de Andrade (tido por Sergio como o formulador intelectual do grupo).

O nome escolhido por eles para a ação conjunta foi uma decisão formidável pelo fato de envolver o rio Sanhauá, cuja margem leste serviu de berço para toda a aventura chamada Parahyba. (Por mim, deveria haver uma homenagem ao Sanhauá por todos os cantos da capital paraibana).

Faziam parte do grupo, além de Sergio e Marcus, Marcos dos Anjos (poeta e uma espécie de mecenas), Vanildo de Lira Brito (poeta, professor e filósofo), Marcus Tavares (poeta e teatrólogo) e Anco Márcio (poeta, contista e ator), os dois últimos, irmãos. “… não temos uma linha comum de pensamento. diferimos um do outro como o sangue da seiva, como a imaginação do sonho. somos coerentes apenas com o mundo em que vivemos e a verdade que a cada homem pertence. pronto, aqui estamos/SANHAUÁ”, escreveu Marcos Tavares em editorial da revista Couro (que emplacou apenas um número), segundo citado por Sergio de Castro Pinto em artigo, com o título de Meninos em vi(vi)!, publicado no Ambiente de Leitura Carlos Romero.

A maravilhosa trupe pessoense existiu numa época de grandes expressões artísticas na vida paraibana. Falo dos anos 1950 e 1960, quando é possível aludir (dá um medo danado esse negócio de lembrar nomes), afora à turma do Sanhauá, às figuras de Virginius da Gama e Melo e Juarez da Gama Batista (primos), Linduarte Noronha, Barreto Neto, Paulo e Ipojuca Pontes (irmãos), Jurandy Moura, Paulo Melo, Jomard Muniz de Brito (pernambucano e professor da UFPB, até o AI-5), Archidy Picado, Raul Córdula (campinense radicado em João Pessoa), Carlos Aranha, Flávio Tavares entre outros (o mesmo que et cetera, para ver se tenho salvação).

Naquele tempo, havia um recinto sagrado onde depois de rodar pela cidade, todos iam se encontrar, lugar venerado até hoje e que se chamava Churrascaria Bambu. Debaixo do bambuzal da Lagoa os debates intelectuais rolavam até amanhecer o dia, sem intervalo e sem briga. Afinal, o duelo era de inteligências e não de ignorâncias.

Voltando ao Grupo Sanhauá, além das declamações entre uma cerveja e outra, os meios de divulgação do que se produzia incorporavam o velho mimeógrafo, a ousada Edições Sanhauá e a vetusta A União. Enfim, todos os meios possíveis de garantir uma veiculação capaz de atingir leitores e, além disso, ficar para os tempos futuros.

Em 1967, rompendo com uma trajetória essencialmente amadora, o Grupo Sanhauá resolveu anunciar sua profissionalização, o que aconteceu com a encenação de “O Despertar do Medo”, peça escrita por Marcos Tavares e dirigida por Carlos Aranha (onde alguns deles atuavam como atores, incluindo Guy Joseph), que chegou a ser premiada como Melhor Espetáculo na Semana de Teatro da Paraíba de 1967. (A título de registro pessoal, na década de 1970, presenciei Anco Márcio no monólogo Diário de um Louco, de Gogol, no Teatro Santa Roza, numa performance irretocável.

E o vi muitas vezes assumir uma máquina de datilografia e criar contos rápidos, quase sem respirar). Mas as dificuldades conjunturais, especialmente depois do AI-5, no final de 1968, pioraram muito para as bandas da arte e da cultura. Foi então que Marcus Vinícius embarcou rumo a São Paulo (onde ainda se encontra) e cada um foi cuidar de sua vida.

Sem se afastarem da criação artística, claro! Corria o ano de 1979 quando a Editora Universitária da UFPB reuniu no livro “antologia poética/GRUPO SANHAUÁ”, poesias de Sérgio de Castro Pinto, Marcos dos Anjos, Marcus Vinícius, Marcos Tavares e Anco Márcio.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba