Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: O fabuloso e prestigiado Clube Astrea fundado no tempo do Brasil Império - Por Sérgio Botelho

Houve uma época em João Pessoa, até meados da década de 1970, em que dois grandes clubes disputavam protagonismo social, a despeito de outros. Me reporto a Astrea e Cabo Branco, que faziam sucesso enorme da prática de esportes a memoráveis festas e shows. Então, no carnaval, a disputa se intensificava, desde o que a gente chama hoje de pré-carnaval, que na época se traduzia pelos ‘gritos de carnaval’ e bailes singulares: no Astrea, o Azul e Branco; no Cabo Branco, o Vermelho e Branco.

Foto: Internet

Houve uma época em João Pessoa, até meados da década de 1970, em que dois grandes clubes disputavam protagonismo social, a despeito de outros. Me reporto a Astrea e Cabo Branco, que faziam sucesso enorme da prática de esportes a memoráveis festas e shows. Então, no carnaval, a disputa se intensificava, desde o que a gente chama hoje de pré-carnaval, que na época se traduzia pelos ‘gritos de carnaval’ e bailes singulares: no Astrea, o Azul e Branco; no Cabo Branco, o Vermelho e Branco.

Embora a história dos dois estejam muito juntas e misturadas, como se diz, hoje pretendo alinhavar a do Astrea. O nome Astrea vem da mitologia grega, onde é tida como filha de Zeus e de Têmes, e identificada como a Justiça. Com esse nome, o clube pessoense foi protagonista de uma vida social intensa e de carnavais memoráveis na capital paraibana, desde a sua sede na Duque de Caxias (onde distribuiu alegria até 1936), passando por um balneário que manteve em Tambaú, na década de 1950, até a sede da Monsenhor Walfredo, em Tambiá (inaugurada em 22 de fevereiro de 1936, sábado de Carnaval), endereço, ao fim e ao cabo, onde foi posto um termo à sua magnífica existência.

“O Clube Astréia (sic) realizou ontem o seu 2º Grito de Carnaval para 1950 no seu elegante Balneário de Tambaú, que se revistiu (sic) de grande brilhantismo, com o concurso da Orquestra da Polícia Militar”, noticiou A União em sua edição de 01 de janeiro de 1950. O Astrea vem do final da segunda metade da década de 1880 (30 de maio de 1886), ainda no Brasil Império, e serviu muitas vezes de local para reuniões políticas (comenta-se, republicanas).

Por outro lado, no início da década de 1940, o clube participou com sucesso do campeonato paraibano, já que foi campeão nos anos de 1942 e 1943. Mas não deu prosseguimento ao seu departamento de futebol. Diferentemente disso, o clube investiu bastante em outras modalidades, como natação, basquete e judô. Sem esquecer o papel desempenhado pelo Astrea nos inesquecíveis Jogos da Primavera, não apenas como local de disputas, mas especialmente de brilhantes festas. Nos carnavais, Astrea e Cabo Branco dividiam noites e manhãs dos quatro dias do reinado de Momo.

As noites de sábado e segunda-feira eram do Astrea, para os adultos. Noites de domingo e terça-feira eram do Cabo Branco, também para os adultos. As matinais de sábado e segunda-feira eram reservadas às crianças, no Astrea; as de domingo e terça-feira, também para as crianças, no Cabo Branco. Muitas crianças e adultos costumavam ‘maratonar’ os quatro dias nos dois clubes. Há quem lembre, com saudades, de tradicionais festas de Reis, no clube. A sede do Astrea em Tambiá, a partir do palacete do final de década de 1930, foi sendo ampliada na mesma medida que crescia o prestígio do clube.

Assim, mesmo que meio descaracterizado com relação ao padrão arquitetônico do restante da sede, foi construído um ginásio vizinho, mais voltado para a rua Princesa Isabel, onde ocorreram shows marcantes da vida pessoense, como dos Mutantes (com Rita Lee e tudo), em início de carreira, Roberto Carlos, Simone, Gal Costa, os Incríveis (tocando para dançar), Elis Regina, Chico Buarque, The Fevers, Ronnie Von, Wanderley Cardoso e outros que não lembro. Os Quatro Loucos, Diplomatas, The Gentlemans, Tuaregs, Aldemir Sorrentino, Selenitas entre outras bandas pessoenses da época do Iê-iê-iê eram atrações permanentes nas inesquecíveis matinés dançantes do clube de Tambiá.

Hoje, tudo isso não passam de lembranças. Um pouco arruinada, a sede continua de pé, em Tambiá, enquanto o hino do clube ainda ecoa na memória de quem lhe apreciou os dias de brilho: “Queiram ou não queiram, nós temos o melhor, e a nossa canção nós sabemos de cor. Cantar, cantar, cantar e sem parar, áessetêerreéá, áessetêerreéá. Você do nosso clube tem um riso diferente, quando passa pela rua enlouquece logo a gente, quando vê a nossa turma se põe logo a cantar áessetêerreéá, áessetêerreéá”.

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba