O Grego era um cidadão elegante, realmente nascido na Grécia, mas que viveu, até falecer prematuramente, boa parte de sua vida aqui em João Pessoa. Antes de ser dono de bar, passou o tempo e defendeu a sobrevivência consertando geladeiras. Com enorme freguesia.
Ele tinha o trabalho em seu sangue. Foi desde essa primeira atividade profissional que o conheci. Seu estabelecimento existia ao lado da Igreja das Mercês, na Treze de Maio, no local onde posteriormente foi construído um edifício de três andares para funcionamento de uma clínica.
O Bar Du Grego, ele existia na Barão do Abiaí (ou Elizeu César), entre a Visconde de Pelotas e a Treze de Maio, do mesmo lado do vetusto prédio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e em frente à parte final do prédio do INSS, no oitão do antigo Cine Municipal. Na época, havia um recuo do terreno, e o Bar Du Grego existia mais para dentro, bem distanciado do meio-fio.
Na década de 1970 consagrou-se como um dos mais festejados pontos da boêmia pessoense, a qualquer hora do dia. Os violões eram todos muito bem-vindos e, segundo Pedro Marinho, um dos convivas e musicistas voluntários do bar, tocar um instrumento e cantar tinha o entusiasmado incentivo de Leo, operosa primeira-dama do bar, que também fascinava cantando.
Cláudio e Yolanda Limeira, Hildeberto Barbosa, Washington Rocha, os saudosos Irlânio Pereira e Cleobaldo Chianca, e outros intelectuais da cidade eram vezeiros da elegância e da simpatia de Grego e Leo.
Leo, depois da morte do Grego, eu a encontrei, já no final da década de 80, em Rondônia. Mais precisamente, em Ji-Paraná, exercendo a Medicina. O curso, ela o fez ao mesmo tempo em que trabalhava duramente junto com o Grego, no bar, e criava suas filhas, todas elas belas moças.
Lembro de uma histórica passagem da vida paraibana. Ainda vejo uma pequena multidão descendo a Barão do Abiahy, a partir da Visconde de Pelotas, carregando o ex-governador Antônio Mariz nos braços, ao tempo em que era deputado federal, depois de ele haver sido preterido para o cargo de Governador do Estado pela Assembleia Legislativa da Paraíba, em eleição indireta. Isso aconteceu em 1978. Naquele momento, junto com outros convivas, no Bar Du Grego, aplaudimos a passagem de Mariz. Ele representava, então, apesar de ser da Arena, resistência contra a ditadura.
(Existe uma arte em alto relevo no concreto da parede de frente do prédio do INSS, atrás do cine Municipal. Aquilo foi criação da genial artista plástica francesa, Marianne Peretti, falecida em abril do ano passado, que entre uma ação e outra de sua lavra criativa, gostava de estar no Bar Du Grego para almoçar ou lanchar. E aproveitavam, ela e seu marido, para elaboração de conceitos e formas. Peretti era admirada por Oscar Niemeyer e deixou muitas de suas criações em Brasília, inclusive no Salão Verde da Câmara dos Deputados).
Tenho certeza de que estou a provocar saudade em muita gente que, um dia, frequentou o Bar Du Grego. Empreendimento boêmio que não parou de funcionar nem mesmo quando ele se recolheu à cama, abatido pela doença, pouco depois de rever sua mãe, que veio a João Pessoa praticamente se despedir do filho. Uma legítima helena.
Ter saudade do Bar Du Grego é ter saudade das coisas simples, da conversa fácil, do bom trato, da elegância humana, do Grego, de Leo, de todos, e da João Pessoa de um dia desses.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba