O rádio paraibano possui figuras históricas que ainda hoje motivam conversas e enchem de curiosidade os que fazem mídia no estado. Particularidades variadas fizeram a fama de muitos profissionais que passaram pelos microfones da Tabajara, da Correio, da Sanhauá e da Arapuan. A rádio Tabajara, especialmente, tem a maior reserva histórica desses profissionais. Com certeza, por ser a mais antiga e a que experimentou tempos inesquecíveis na era de ouro do rádio. Nas décadas de 1940, 1950 e 1960 pontificou no rádio paraibano, exatamente na Tabajara, um desses radialistas de histórias deliciosas e fantásticas chamado Pascoal Carrilho.
Dele, são contadas dezenas de situações em que o profissionalismo se misturava com improviso e bom humor. Vai a primeira história, que me foi relatada pelo saudoso Golinha (Elísio) do velho conjunto da jovem guarda pessoense, Os Quatro Loucos. Quando a Tabajara ainda funcionava ali na esquina da rua Rodrigues de Aquino (antiga Palmeira) com a Almeida Barreto havia uma íngreme escadaria que levava aos estúdios, no segundo andar do prédio da rádio. Em frente à emissora funcionava um barzinho com direito a cachaça e providenciais tira-gostos. Bem perto da hora de o seu programa de notícias e sucessos musicais entrar no ar, Pascoal ainda se deliciava com uma branquinha amparada num caldinho de feijão. E a turma gritava lá de cima: – Pascoal, o programa vai entrar no ar! Pascoal pedia calma e ao mesmo tempo uma saideira. – Pascoal, não dá mais tempo! – Espera aí, rapaz! E em cima da hora, Pascoal subiu desembalado a escadaria de quase 90 graus.
Quando entrou no estúdio, acendeu a luz vermelha: NO AR. Então, ofegante, improvisou um testemunhal sobre penicos: – Caaagaaar a gente caaaga em toodo caaanto. Agoora, caaagar com cooonfoorto sóóó nos peniiicos… Aí, deu a marca dos penicos, que não lembro (kkk). De vez em quando, era suspenso. Há muitas outras. Segundo relata o cirurgião e cronista José Mário Espínola, um dia Pascoal Carrillo inventou um novo sucesso em seu programa de rádio, que andava meio pra baixo. Anunciou uma dançarina cubana de nome La Púbia, porém, recrutada na periferia pessoense, mesmo. E tome La Púbia no auditório da Tabajara! Sem muitos dotes físicos nem artísticos, La Púbia acabou cansando o público, predominantemente masculino.
Foi aí que Pascoal subiu a aposta. Ao começar um novo programa, anunciou com sua voz empostada ‘E A CUBANA DANÇA NUA!’. O que tinha de cabra desocupado pelo centro da cidade, correu tudo para a rádio. E o tempo passava e nada de La Púbia tirar a roupa. Foi preciso ser chamada a famosa Rádio Patrulha da PM, com o velho Balbino (outra figuraça da história pessoense) à frente, para acalmar a turba (kkk). Mas no que pese os lances folclóricos, Pascoal Carrilho comandou com sucesso, durante muito tempo, programas de estúdio e de auditório na Rádio Tabajara, tendo recebido nomes famosos da Era do Rádio no Brasil. Dessa forma, a fama de Pascoal Carrilho ultrapassou as divisas da Paraíba e do Nordeste, se estendendo ao Sul e ao Sudeste do país. Um dia existiu Pascoal Carrilho no rádio paraibano, que hoje é nome de praça no Conjunto dos Radialistas, no Geisel.
(A foto das irmãs Anciomán com Pascoal Carrilho foi copiada do blogspot radiotabajarapb, mantido pelo jornalista e escritor Josélio Carneiro)
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba