Foto: Sérgio Botelho
Foto: Sérgio Botelho

O bairro do Róger, tão tradicional em João Pessoa, poderia ter tomado o nome de Burinhosa, primeira proprietária da área, devidamente registrada, mas acabou homenageando um dono posterior, o inglês de sobrenome Roggers. A história do tradicional bairro se efetiva no processo de expansão dos limites da cidade, mais celeremente incrementado após o advento da República, tendo como referências físicas os complexos católicos de São Francisco e das Carmelitas. Sua expansão acontece ao mesmo tempo que os ricos proprietários de terra, comerciantes e profissionais liberais iam construindo suas residências na estrada de Tambiá, rumo ao leste da cidade, o que torna a história da área que se chama justamente Tambiá, tão imbrincada com a do Róger. Nessa fronteira, surgiu primeiramente o que hoje se chama de Alto Róger, se expandindo, de forma gradual, até as proximidades do Sanhauá, no que passou a se chamar de Baixo Róger. Há, no bairro, relevantes estruturas urbanas da cidade de João Pessoa, como o Parque Zoobotânico Arruda Câmara (conhecido como Bica) e o presídio do Róger (oficialmente, Flóscolo da Nóbrega). Outros equipamentos urbanos de grande significado associativo para o esporte e para a vida pessoense, pontificaram no Róger, como são os casos do Estádio Agostinho Tomaz, mais conhecido como Campo do 11 (do 11 Esporte Clube), e do Guarany Esporte Clube Recreativo, formadores de atletas e de cidadãos. Sem falar na tradicionalíssima Padaria Flor das Neves, referência para toda a cidade. De triste memória, existiu nos seus limites, por um longo tempo, o Lixão do Róger, a céu aberto, para onde era destinado praticamente todo os detritos de João Pessoa, uma verdadeira chaga a enfear e desmerecer e poluir o bairro e a cidade. Cinco educandários que foram estabelecidos no bairro, sendo três de orientação confessional católica (os colégios Sagrado Coração de Jesus, Seminário Diocesano e João XXIII) e dois públicos (o grupo Escolar Epitácio Pessoa e o Colégio Estadual do Róger, esse último, que ocupou o espaço físico do antigo seminário), são marcantes para a história da educação pessoense. O Róger foi sempre um cadinho vibrante da cultura popular da cidade batizada sob a proteção de Nossa Senhora das Neves, justamente a cultura que perdura e rompe as barreiras do tempo e se impõe como formadora do verdadeiro espírito do seu povo. O tradicional carnaval pessoense, por exemplo, estabeleceu o Roger como uma de suas sedes e fator de inspiração a encantar gente de todos os outros bairros da capital, não somente por sediar blocos memoráveis, mas também pelos desfiles de troças, escolas de samba, tribos indígenas (caboclinhos) e maracatus. No campo religioso e das efemérides realce para a tradicional e marcante Festa de Santa Terezinha, padroeira da comunidade, entre 23 de setembro e 1º de outubro, acompanhando calendário católico mundial. Como normalmente acontece nessas festas de inspiração religiosa, a de Santa Terezinha também comportava a parte profana, com barracas nas ruas e shows populares, a reproduzir, em menor dimensão, a tradicional Festa das Neves. Portanto, o Róger é um dos bairros que definem a alma da capital paraibana. Suas histórias e tradições são fundamentais para entender a identidade cultural da cidade. Do seu passado às transformações modernas, o Róger continua a ser um reflexo vibrante da cultura e do espírito comunitário que moldaram João Pessoa.
(As fotos são nossas e retratam o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, tradicional Bica, no Róger)

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.