Construída em 1918, durante o governo Camilo de Holanda (1916-1920), no limiar de significativas mudanças urbanas ocorridas na Cidade da Parahyba, atual João Pessoa, a balaustrada da rua das Trincheiras se constituiu, então, em concorrido atrativo. A obra foi erguida para separar a via urbana do imenso espaço, em nível bem mais abaixo, na sua margem oeste, em uma cidade renovada que emergia acompanhando o crescimento econômico do estado, além de beneficiada com recursos pelo paraibano Epitácio Pessoa, na Presidência da República (1919-1922).
Ao longo da rua, que abriga os pontos urbanos pessoenses mais elevados, em relação ao nível do mar, iam sendo construídas espetaculares mansões por ricos produtores de cana de açúcar e algodão, e ainda por comerciantes e profissionais liberais beneficiários do boom agrícola. Aliás, eram essas figuras e seus familiares os mais diretamente favorecidos pela pertinente obra, não só por conta da proteção física oferecida, mas também pelos pores do sol vivenciados naquele belvedere maravilhoso, que deita sua vista por sobre a bela paisagem das várzeas e mangues dos rios Sanhauá e Paraíba.
Evidentemente, estamos falando de uma época de ouro daquele espaço urbano em que não existia a fábrica de cimentos construída na Ilha do Bispo, na década de 1930. Com a fábrica, a primeira coisa a sofrer foi o espetacular panorama, a partir do mirante da balaustrada, que passou a ser coberto por tóxicas nuvens de pó de cimento, e enfeiado pela cimenteira. Depois, a própria balaustrada, desprezada pelo poder público e vítima de uma ocupação desenfreada das encostas, provocada pelas persistentes desigualdades sociais paraibanas. Na sequência, os donos das mansões e suas famílias foram mudando de endereço, e simplesmente abandonando suas moradias, na direção de locais mais tranquilos e distantes dos ruídos da cidade que continuava crescendo.
Hoje, a balaustrada e as Trincheiras são trágicos exemplos de abandono impiedoso, com enorme prejuízo à memória física e sentimental da cidade de João Pessoa. Apesar de toda a rua ser devidamente tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).