Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: A Avenida João Machado aos moldes de um boulevard - Por Sergio Botelho

Houve um tempo na cidade de Parahyba do Norte, conhecida hoje em dia como João Pessoa, em que as casas eram todas conjugadas e rentes às calçadas. Sem recuos nem jardins, as paredes das frentes, carregando com elas portas e janelas, esbarravam direto no passeio. Não é possível dizer que era de todo ruim, pois facilitava muito as conversas de janela com vizinhos e conhecidos em passant.

Foto: Internet

Houve um tempo na cidade de Parahyba do Norte, conhecida hoje em dia como João Pessoa, em que as casas eram todas conjugadas e rentes às calçadas. Sem recuos nem jardins, as paredes das frentes, carregando com elas portas e janelas, esbarravam direto no passeio. Não é possível dizer que era de todo ruim, pois facilitava muito as conversas de janela com vizinhos e conhecidos em passant.

E até era melhor para flertes entre as moças, que normalmente viviam enclausuradas, e os rapazes que furtivamente apareciam. Conversas até com mais proximidade do que desejavam os pais, sem arredar os pés de dentro de casa. Mas nos aspectos de saneamento, conforto, ventilação e privacidade, esse tipo de habitação apresentava sérias deficiências.

O espirro em uma das casas, entre outros sons involuntários que produzimos a todo instante, podiam terminar indesejavelmente audíveis para o vizinho. E as discussões familiares comuns ao dia a dia da vida de qualquer um? Pois imagine a possibilidade de você construir em nova rua na qual as casas não teriam de ser mais conjugadas e nem rentes às calçadas! Dessa forma se apresentou a avenida João Machado, inicialmente denominada Avenida Central, quando foi construída na década de 1910, entre a rua das Trincheiras e a Estrada dos Macacos (atual Pedro II).

A nova via residencial tinha 1.350 metros de comprimento por 22 metros de largura, árvores nas calçadas e canteiro central, aos moldes de um boulevard, e fartos terrenos para construção. A chance de separar paredes e recuar frentes, permitindo jardins e até hortas, tinha significado urbanístico e humano enorme. O projeto simbolizava a modernização da capital paraibana. Um luxo! Contudo, para não fugir à regra, um luxo só possível aos muito ricos. E foi o que aconteceu quando rapidamente surgiram mansões próprias de cinema, com tudo isso que as casas passaram a ter direito.

Ainda é possível constatar o porte dos casarões construídos na avenida, impressionantes até hoje. Registre-se, entretanto, que a João Machado atraiu a classe média a ruas paralelas e transversais, incluindo os lados de Jaguaribe (até então lotado de casebres e construções desordenadas), que também fugiram dos padrões anteriores das casas conjugadas, por meio de residências menos suntuosas que as da João Machado, mas com recuos frontais e laterais. Importante assinalar que por baixo da João Machado foi embutido um dos eixos de distribuição da água potável, a partir do Buraquinho, como também de encanações referentes ao processo de saneamento construído na década de 1920. Outrossim, equipamentos públicos e religiosos importantes foram instalados, em belos prédios, na avenida, a exemplo do Instituto de Proteção à Infância, do Orfanato Dom Ulrico e do Grupo Isabel Maria das Neves. Tudo isso junto e mais o saneamento e a urbanização da Lagoa dos Irerês, as aberturas da Trincheiras, da Maximiano Figueiredo, da avenida Tambiá, da Praça da Independência e da Epitácio Pessoa compuseram um quadro marcantemente transformador da capital paraibana no rumo do futuro, arrumando a base urbana necessária à expansão da cidade no rumo da sua orla marítima por muitos séculos bela, mas inalcançável até então. Hoje um espetáculo a nossa inteira disposição e deleite universal!

Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Para[iba