Enquanto escrevo ocorre o processo de consulta interna da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Deixo de fazer qualquer análise sobre a chapa encabeçada pelo professor Valdiney Golveia, pois não o reconheço como alguém que participa do jogo democrático, e os degraus que o conduziram ou o chão por onde caminhou na UFPB confirmam a hipótese, questão superada.
Ma detenho a fazer uma breve análise da UFPB que as duas candidaturas do campo democrático representam e apresentam. Devo falar a meu respeito para que faça sentido a análise que apresento: me formei na UFPB, sou também advogado de formação, fundei uma ONG, plantei uma árvore, escrevi um livro de crônicas, e sou, sobretudo, mais do que nunca, na máxima potência ativista por educação, ciência, tecnologia e inovação.
A disputa na UFPB reflete não a defesa da democracia, pois a esse respeito, não aplaudo. Defender a democracia em todas as instâncias, no tempo em que vivemos, tem o peso de alguém que consegue respirar. Basta estar vivo. Logo, não vale divagar por aqui.
Ao que interessa, vamos lá.
Me parece que as duas chapas construíram duas identidades que servem e muito para o elemento de identificação, que é decisivo numa disputa por votos.
Na chapa 1, o diálogo e a escuta são tão repetidos quanto não se explica de que forma serão instrumentalizados para chegar a um resultado concreto. Com quais recursos e envolvendo quais atores, em cada agenda apresentada?
Como exemplo, dou a proposta de ampliar ônibus circulares na Universidade. Como? Ampliar o quanto? Qual o cronograma de entregas? Com que recursos?
Em uma cultura do governo central de contingenciamentos e bloqueios orçamentários, nenhuma das chapas é direta ao definir o que será prioritário caso ocorram tais eventos.
Se a matriz orçamentária ANDIFES/MEC não foi revista, e a aprovação do arcabouço fiscal do atual governo exige, eventualmente, contingenciamento orçamentário em razão da oscilação da receita, é preciso que ambas as chapas digam o que é imprescindível.
As duas chapas pecam ao não fortalecer uma estrutura de governa institucional que forneça ao Conselhos Superiores evidências para tomada de decisão, já existindo soluções que automatizam o diagnóstico dos problemas, dando condições aos conselheiros e a própria gestora ou gestor de tomarem decisões modernizando o jeito de pensar o que é dialogar para gerir.
Ambas as chapas estão em seus guetos, cometem o que considero erro fundamental, que é mensurar possível desempenho eleitoral com base no apoio dos diretores de Centro, esquecendo a massa crítica de docentes, discentes e técnicos administrativos – que levam o gerenciamento da UFPB, enquanto os amigos dos reis e da rainha ocupavam o lugar de destaque. Basta avaliar a proporção de cargos de direção ocupados por técnicos administrativos.
É a UFPB de sempre, norteada pelo caciquismo. Alguém, por gentileza, está disposto a enfrentar essa cultura organizacional?
A chapa 1 tem o enorme diferencial de entender o protagonismo da UFPB na relação com a sociedade, a partir das organizações da sociedade civil e movimentos sociais, para chegar na ponta, conversar com nossos iguais, disseminar o conhecimento desenvolvido na UFPB, e apreender a inteligência popular, uma engenharia de sobrevivência e luta que merece atenção, com plano de ação, definição de recursos, monitoramento de resultados e entregas e avaliação dos programas, projetos e ações.
Porque dinheiro público não nasce em árvore, e sem modernização dos instrumentos de gestão, não como falácia, mas com especificação do que e pra quê, a chapa vai seguir ressentida da história, esbanjando carisma e confiança, mas a cadeira, me permitam dizer, a cadeira de reitor ou reitora da UFPB.
A impressão que me causa é que a chapa 1 tem os fins, e a chapa 2 tem os meios.
A chapa 2 apresenta repertório de proposta para uma Universidade que, talvez, no futuro cumpra com boa parte da agenda de ações e projetos que elencados.
Jogaram uma bola na eficiência administrativa e acertaram na relação com o setor produtivo, que é incipiente, não transversal, baseada ainda no caciquismo. Ninguém vai admitir o maior e supremo desafio que a UFPB tem pela frente, que é mudança na cultura organizacional. No conjunto da obra a Chapa 2 flerta com algum impacto na cultura organizacional, mas como efeito colateral do que pretende implementar.
Preocupa-se mais com a vitrine do que vem fazendo, que com a potencia que tem a UFPB para instalar um Parque Tecnológico com áreas de competência tecnológica, e que acumule uma estrutura de governança da inovação, incorporando e fortalecendo ferramentas de gestão de que não dispõe a atual agência de inovação.
A partir de um fórum estratégico, com representação de atores envolvidos em pesquisa e extensão tecnológica, para que a cada ano se saiba o ponto de saída e de chegada, pois de forma democrática, e baseada em critérios objetivos, sejam quais forem, sejam apresentados à comunidade os objetivos estratégicos gerais e específicos, que vão orientar a captação de recursos extra orçamentários, por meio do instrumento correspondente. Esses recursos, geridos de forma eficaz podem retornar à Universidade para financiar ações que o orçamento ordinário não cobre.
Aqui, cabe salientar que apesar do jabá, os observatórios da graduação em nada refletem um fórum estratégico.
Na entrevista/debate foi vergonhoso ver o jogo de quem tem razão ao se referirem às emendas parlamentares. Inegável sua importância. Porém, não são suficientes para cobrir aquilo que as chapas apresentam para a comunidade como agenda. Essa estratégia não pode estar situada por inteiro no exercício de um mandato, é preciso fazer agora.
Apenas uma estratégia robusta de captação de recursos e oportunidades, conciliada a um plano para diversificação das fontes de financiamento da UFPB podem superar o lugar em que se encontra a instituição.
Ter sua própria fundação de apoio, baseada em boas práticas e no impacto sobre a gestão universitária é tão elementar quanto não dito, ou por não conhecer o caminho das pedras.
Mas, sobre a chapa 2 há um fato que merece ser mencionado, é debatido com honestidade intelectual, quando um discente percebe uma bolsa com valores que podem chegar ao dobro (ou mais) dos estabelecidos pelo CNPQ, é demagogia não pensar o impacto socioeconómico, e os desdobramentos para atração de investimento privado, que em nada privatiza a UFPB. Estamos aqui discutindo de forma concreta, e não discursiva, a ampliação das políticas de
Acaso a UFRJ, UFSC e Unicamp são instituições que não percebem o tecido social, cultural e econômico em que se inserem? Objetivamente, não.
A pesquisa básica, especialmente no campo das humanidades, e as atividades extensionistas e de ensino acaso não indissociáveis? Acaso uma política robusta de inovação, com gestão descentralizada nos centros, mas estrutura de governança sólida, em que não passe apenas o projeto que chega primeiro, mas aquele que seja aderente aos objetivos estratégicos da UFPB, que se entende como transversal na vanguarda das macropolíticas do governo federal em termos de Universidade Inovadora.
Como ex aluno, que sonhou formar-se na UFPB, vejo nanismo do conjunto que espalhou pela UFPB desde meados de minha graduação. 10 anos sem que a Paraíba tenha a Universidade Federal que merece.
Por isto não falo em luz no fim do túnel, apenas velas acesas por um sectarismo persistente, um corporativismo alarmante,
Fonte: Daniel Macedo
Créditos: Polêmica Paraíba