
O Papa Francisco, que morreu aos 88 anos, manteve uma relação muito próxima com o Brasil, o primeiro país que ele visitou depois de ser investido para um pontificado de doze anos, que sinalizou guinada reformista na estrutura da Igreja Católica e tornou-a mais progressista e antenada com os desafios contemporâneos, da questão de gênero às questões ambientais. Foram inúmeras as declarações do Papa argentino sobre o Brasil, abordando temas como ecologia, desigualdade social e democracia. Chegou a formular declarações sobre a situação política e social brasileira, condenando a onda de “extremismo” disseminada a partir do governo de Jair Bolsonaro (PL), além de ressaltar a importância da proteção da Amazônia contra a cupidez de grupos econômicos imperialistas. Francisco solidarizou-se com o povo brasileiro diante de tragédias naturais e foi especialmente acolhedor com a maior população católica do mundo (cerca de 180 milhões de católicos, conforme o Anuário Pontifício de 2023).
Na sua primeira viagem internacional depois de assumir o comando da Igreja, o Pontífice veio participar da vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude, encontro de jovens realizado no Rio de Janeiro em julho de 2013. Encontrou-se com a então presidente Dilma Rousseff (PT), com lideranças políticas e autoridades e dirigiu-se a um público expressivo que o recepcionou com carinho e afetividade. Cerca de um ano depois, em fevereiro de 2014, a ex-presidente Dilma esteve com o Papa Francisco no Vaticano, entregando-lhe uma camisa da Seleção Brasileira assinada por Pelé e uma bola autografada por Ronaldo, além de convidar o Santo Padre para a Copa do Mundo que foi realizada naquele ano no território nacional. Os dois voltaram a se avistar em abril de 2024. Francisco não se reuniu pessoalmente com Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) durante os mandatos dos ex-presidentes. Conforme relata o “Poder360”, em 2017 o papa disse que a crise política e social que o Brasil enfrentava não era de fácil solução.
Com Bolsonaro, a relação teve alguns momentos de tensão, principalmente por conta de divergências em relação à proteção da Amazônia (o ex-presidente queixava-se de interferências externas sobre as riquezas do Brasil). Amistosa, mesmo, foi a relação do Papa Francisco com Luiz Inácio Lula da Silva – os dois se encontraram pessoalmente diversas vezes. A primeira reunião ocorreu antes mesmo do petista conquistar o seu terceiro mandato na Presidência da República. Em 13 de fevereiro de 2020, no Vaticano, Lula conversou com o Papa sobre o meio ambiente e a desigualdade social. Depois de assumir a Presidência, Lula viajou ao Vaticano em junho de 2023. Ele estava acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva. Cerca de um ano depois, novo encontro entre Lula e Francisco, em Borgo Egnazia, na região da Puglia, no sul da Itália, ocasião em que Lula convidou o Pontífice para participar de uma campanha conjunta para tornar o mundo “mais humano”.
Demonstrando interesse especial pela situação política-institucional brasileira, o Papa manifestou-se, por exemplo, sobre os atos extremistas realizados em 8 de janeiro em Brasília, externando sua preocupação com o episódio. Salientou que extremistas no Brasil enfraqueciam o regime democrático e que a polarização política-ideológica não contribuiria para equacionar os problemas urgentes dos cidadãos”. Francisco igualmente hipotecou solidariedade às famílias afetadas por enchentes no Rio do Grande do Sul em 2024 e doou 100 mil euros para ajudar. Em 12 de fevereiro de 2025, a primeira-dama Janja Lula da Silva esteve com o papa Francisco durante audiência no Vaticano. Em vídeo publicado em seu perfil no Instagram, ela disse ter agradecido pelas orações pela saúde de Lula e conversado sobre a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada durante a Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro em 2024.
A “Revista Forum” lembra que Francisco ganhou a alcunha de “comunista” e foi duramente atacado pela ultradireita neofascista em todo o mundo durante sua passagem pelo Vaticano, devido aos seus posicionamentos na linha progressista. Informa que, no Brasil, Jair Bolsonaro desferiu diversos ataques contra ele e que a hostilidade de apoiadores bolsonaristas agravou-se após entrevista de Francisco a um site espanhol em 2022, falando abertamente sobre o processo de lawfare contra Lula no Brasil e classificando como “gravíssimas” as perseguições judiciais a líderes políticos baseadas em fake news criadas pela mídia. Também opinou contra o processo de impeachment de Dilma. No mundo inteiro, é grande a expectativa sobre quem será o sucessor de Francisco e qual o direcionamento que ele tomará. Mas é quase consenso que não há mais caminho de volta para as mudanças que Francisco implementou na Igreja Católica.