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Os atalhos para a derrota eleitoral tomados por Cartaxo através de suas escolhas caseiras - Por Anderson Costa

Aprender com os erros é algo fundamental para a evolução não apenas do ser humano enquanto indivíduo, mas da humanidade enquanto espécie. Aparentemente quem não é muito afeito a este conceito e prefere seguir repetindo seus erros é o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo.

Aprender com os erros é algo fundamental para a evolução não apenas do ser humano enquanto indivíduo, mas da humanidade enquanto espécie. Aparentemente quem não é muito afeito a este conceito e prefere seguir repetindo seus erros é o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. Luciano é um homem que conseguiu atingir altos postos dentro da política paraibana apesar de sempre ter sido considerado uma força de médio porte até o momento em que assumiu a Prefeitura Municipal de João Pessoa em 2013, após vencer Cícero Lucena nas urnas em 2012.

Até aquele momento a grande força de Cartaxo se encontrava no partido que ocupava, pois o prefeito que hoje busca construir uma continuidade do Partido Verde na prefeitura da Capital era membro do Partido dos Trabalhadores. Cartaxo que havia sido vice-governador na passagem mais recente de José Maranhão pelo governo estadual não era uma figura muito conhecida do eleitorado da Capital para além da sua importância do pré-carnaval da cidade. Ele conseguia até o momento de sua candidatura em 2012 seguir na aquecida política paraibana sem tornar-se uma figura que despertasse paixões ou ódio no eleitorado.

Com o lançamento do seu nome num pleito marcado por grandes rejeições, Luciano viu seu nome começar a ser abraçado na medida em que as pessoas o enxergavam como uma possibilidade de votar sem cabrestos. A possibilidade da eleição de Cartaxo para a prefeitura se iniciou com o racha no PSB entre o, na época recém-eleito, governador do estado Ricardo Coutinho e o prefeito Luciano Agra que gozava de boa aceitação popular e aparentava ter condições de alcançar uma reeleição fácil diante dos adversários que se reapresentassem. Sem o apoio de Ricardo, Luciano Agra teve de deixar o PSB e se compatibilizar com outro partido já sem tempo de se apresentar como candidato a reeleição. O partido escolhido por Agra foi o PT e assim um prefeito bem quisto pela população da cidade e que não poderia disputar as eleições impulsionou a campanha do seu homônimo.

Como adversários de Cartaxo estavam presentes os nomes do ex-governador José Maranhão, que desde a derrota para Cássio Cunha Lima na disputa pelo governo do estado não conseguiu demonstrar bom desempenho em eleições pelo executivo na Paraíba; o ex-senador Cícero Lucena, que na época sofria um verdadeiro inferno político ao ter o seu nome envolvido na lama criada pela Operação Confraria da qual levou anos para limpar-se ao ser julgado inocente pela justiça brasileira; por fim, como nome de peso na disputa estava Estelizabel Bezerra, que ainda era um nome jovem em comparação aos adversários e que sofreu grande rejeição da população da Capital que via sua eleição unicamente como uma maneira de manter o poder na cidade nas mãos de Ricardo Coutinho, que assim poderia governar indiretamente João Pessoa enquanto era simultaneamente governador do estado.

Independentemente das condições que o possibilitaram alçar-se ao posto de prefeito, Luciano Cartaxo conseguiu fazer uma gestão forte. Apesar das polêmicas em que o seu governo se envolveu ele conseguiu sobreviver a todas, inclusive saindo do Partido dos Trabalhadores quando este ruía junto com o governo de Dilma Rousseff em meio ao escândalo da Operação Lava Jato e manteve sua imagem fortalecida. Mas é diante exatamente do que foi o seu auge político que Luciano iniciou uma sequência de erros que o destinaram a ser considerado o maior derrotado das eleições de 2018 na Paraíba.

As primeiras escolhas

Ainda durante o seu primeiro mandato, Luciano vivenciou o momento de escolher que nomes ele apoiaria para tentarem se eleger para um cargo no legislativo nacional ou no executivo estadual. Naquele momento, o prefeito, assim como muitos outros nomes da política local fazem, optou por apoiar um nome dentro de sua própria família e assim fortalecer o seu clã. Cartaxo que naquele momento estava com a faca e o queijo na mão para se tornar uma das grandes lideranças políticas da Paraíba. O entendimento sobre a possibilidade de ser impulsionado estava correto, o erro foi lançar o irmão em uma candidatura ao Senado Federal enquanto uma disputa para que Lucélio fosse eleito deputado federal era muito mais plausível para alguém que nunca havia possuído cargo eletivo anterior algum em sua vida.

Apesar de bem votado, Lucélio saiu derrotado por José Maranhão na disputa pelo Senado e teve de amargurar novos anos sem deter um cargo próprio. Luciano, por sua vez, deixou de ter um importante aliado em Brasília que poderia estar destinando recursos para a Prefeitura Municipal de João Pessoa através de emendas. Com a sua reeleição em 2016 o prefeito da Capital demonstrou sua força na cidade ao derrotar uma forte estrutura do PSB que contava com o apoio do governador Ricardo Coutinho, que estava extremamente fortalecido naquele momento.

Com a vitória sobre Cida Ramos, que mais soou como uma vitória sobre o próprio Ricardo, muitos passaram a apontar que a saída do prefeito da PMJP para disputar as eleições era simplesmente o caminho óbvio a ser tomado. Luciano então demonstrou uma faceta que não se havia notado até então, a de alguém que simplesmente não toma decisões no momento que são necessárias e as posterga até o limite fazendo com que elas se tornem impossíveis e fatalmente lhe reste apenas opções menos interessantes. Ao longo de 2017, Luciano e o Prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, brigavam para deterem o direito de serem eles o candidato da oposição ao posto de chefe máximo do executivo na Paraíba, arrastaram a disputa por 2018. O grande problema é que esta disputa entre os dois foi além dos limites do aceitável, rachou uma oposição que vinha fortalecida e possuía chances de ser avassaladora naquele momento e findou apresentando uma resposta que não saciou o desejo dos paraibanos por uma opção viável contrária ao projeto do então governador Ricardo Coutinho.

Lucélio, o mesmo que poderia já ter sido eleito deputado federal em 2014, mas não o fora por uma candidatura errada ao Senado Federal e que novamente teria grandes chances numa disputa por uma das vagas paraibanas pela Câmara dos deputados em 2018 foi colocado na casa errada no xadrez da política. Tão sem experiência em cargos eletivos quanto João Azevêdo, mas sem a adesão ao seu nome em todo o estado da qual o ex-secretário gozava após os longos anos como secretário de estado de uma das gestões mais aclamadas da história da Paraíba, Lucélio foi lançado apenas para se tornar o candidato de oposição que foi derrotado no primeiro turno. Foi com esta derrota que Luciano Cartaxo foi apontado naquele momento como o maior derrotado das eleições, pois nem conseguira ser eleito a nada (até mesmo por não ter disputado), não conseguiu eleger seu grande aliado e está sentenciado a perder o poder da caneta em 1º de Janeiro de 2021.

A insistência

Poderia esperar-se que Luciano houvesse aprendido após as duas malfadadas candidaturas do irmão e agora buscaria fortalecer aliados com mais fôlego junto ao povo para poder permitir que o seu partido o PV siga forte em João Pessoa, mas não é isso que apontam os sinais. O primeiro sinal de que Luciano segue imutável é a sua incapacidade de dizer que sim ou que não antes do último segundo. No momento de desincompatibilizar o secretário Diego Tavares, que já vinha sendo apontado como o seu candidato natural pela continuidade a partir de 2021, Luciano desincompatibilizou três secretários diferentes, assim adiando ainda mais o seu anúncio. A demora em definir um nome foi um problema para a oposição em 2018 que começou a corrida eleitoral sempre atrás do governo estadual e poderá ser também o caminho que fará com que nenhum nome escolhido por Luciano tenha fôlego para chegar ao fim da disputa em 2020.

Além do atraso característico do prefeito em sua tomada de decisão, a imprensa paraibana já dá sinais de que ele não teria mais interesse em apontar nenhum de seus secretários como candidato e que preferirá optar por um nome dentro de sua família. Caso Luciano faça novamente esta escolha ele mais uma vez deixará de optar pelo caminho natural e óbvio para tomar um atalho que deverá, como nas vezes anteriores, levá-lo para desastres eleitorais. Cartaxo não percebe que o que ele vivenciou em 2012 foi um quadro único e que ele já não é mais a pequena liderança política que era. Que hoje tem que se fazer grande através do próprio nome e não pelo número de sua legenda. Segue errando.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba