se Cunha não delatar Manoel Jr

O SONHO DE CARTAXO: Maranhão e Romero desistirem, isso só acontecerá lá pra Abril - Por Flávio Lúcio

Cartaxo acorda agitado e percebe que tudo aquilo não passava de um sonho. Então, tenta voltar a dormir, mas um pensamento que o persegue o impede: “Se Maranhão e Romero desistirem, isso só acontecerá lá pra Abril. Isso se Eduardo Cunha não delatar Manoel Jr. antes.”

O SONHO DE CARTAXO

Luciano Cartaxo deve ter todas as noites um sonho mais ou menos assim: ele chega na Convenção que ratificará sua candidatura ao governo na Hylux novinha em folha adquirida especialmente para a campanha. Cartaxo desce e é saudado efusivamente pela multidão que o espera fora do clube Cabo Branco e que não conseguiu entrar para presenciar o ato que dará início à caminhada rumo ao Palácio da Redenção.

Sim, porque todos ali se imaginam assumindo o governo e governando como se todos fossem um único Luciano. Dessa vez, como não haverá “dois Lucianos”. Um dos marqueteiros da campanha, acho que Ruy Dantas, sugeriu um “Somos todos e todas Luciano”, mas Elisa Virgínia  não aceitou em hipótese alguma essa manifestação da “ideologia de gênero”, que ela não sabe explicar direito o que é, mas que entende muito bem. Um repórter da Folha de São Paulo que veio à Paraíba para produzir uma matéria com a deputada perguntou como Virgínia se definia: “Eu sou uma mistura de Bolsonaro com Silas Malafaia”, respondeu ela sem pestanejar.

No sonho de Luciano Cartaxo, dois cabos eleitorais iniciam uma disputa para ver quem levará nos ombros o candidato “das oposições” – que são muitas − para o ginásio onde acontecerá o evento. Cada um deseja mostrar para os netos as fotos que comprovam que eles participaram daquele dia histórico. Um deles vence a batalha e sobre seus ombros Luciano Cartaxo atravessa a multidão, como se flutuasse sobre ela. No fundo, meio distante, vê-se uma faixa já meio gasta onde se lê: “Cartaxo é a salvação da família”.

Cartaxo finalmente se aproxima do ginásio do Cabo Branco, onde outra multidão entra em frenesi quando o animador da festa, um radialista conhecido, anuncia a chegada do “futuro governador”. O jingle da campanha é cantado a plenos pulmões pela multidão de cabos eleitorais. No palanque montado para festa, Romero Rodrigues espera a chegada de Cartaxo, batendo palmas no ritmo da musiquinha que se repete indefinidamente, talvez se imaginando no lugar do ex-prefeito de João Pessoa.

Depois de muito tentar ser candidato, Romero desistiu da candidatura, mas fincou pé e permaneceu na Prefeitura de Campina, deixando os Ribeiro apenas com água na boca. Romero está ao lado do filho Cássio, Pedrinho, que será o representante da família na chapa de Luciano, o que muito agradou o candidato a governador. “Sangue nova, nova geração”, disse Luciano.

Cartaxo finalmente chega ao palanque. Cássio o ajuda a subir no tablado e Cartaxo o abraça quase em lágrimas. Em nome da “unidade das oposições”, Cássio Cunha Lima desistira da candidatura ao Senado para tentar uma vaga na Câmara Federal, no lugar que era de Pedrinho. Um ato de puro altruísmo do senador tucano, ex-melhor amigo de Aécio Neves, que deixou a vaga que teria direito para acomodar na chapa Raimundo Lyra, do PMDB, e Aguinaldo Ribeiro, que ameaçou na última hora apoiar João Azevedo por conta da traição de Romero Rodrigues.

Cartaxo pergunta por José Maranhão, que também desistira de ser candidato, depois de Manoel Jr. ter encomendado 15 pesquisas qualitativas, como já havia feito em 2012, que mostravam a inviabilidade de sua candidatura ao governo. “Maranhão é bom de saída, mas péssimo de chagada”, repetia Manoel Jr para os mais chegados.

E Maranhão finalmente foi “convencido”, não tanto pelos argumentos de Mané Jr., mas pelos de Michel Temer, que não apenas ligou dezenas de vezes para o querido amigo, como o chamou para uma conversa decisiva no Palácio do Planalto, onde também estava secretamente Gilberto Kassab, na iminência de ser preso. Depois dessa, Maranhão não resistiu e anunciou a desistência. “Fica para a próxima”, disse ele.

Cartaxo acorda agitado e percebe que tudo aquilo não passava de um sonho. Então, tenta voltar a dormir, mas um pensamento que o persegue o impede: “Se Maranhão e Romero desistirem, isso só acontecerá lá pra Abril. Isso se Eduardo Cunha não delatar Manoel Jr. antes.”

Fonte: POLEMICA PARAÍBA
Créditos: FLÁVIO LÚCIO