A pandemia do coronavirus que vem nos atacando, pode ser o marco do início de um novo ciclo da humanidade. O planeta terra foi pego de surpresa e todos os povos, com as suas diferenças, se mostraram assustados porque se viram, de certa forma, incapazes de enfrentar o inimigo comum que surgiu. E pior: um inimigo invisível, até então desconhecido. Desafiando a ciência, o vírus, numa rapidez impressionante, revelou-se um invasor com enorme potencial destrutivo. Deus tem o controle do universo e é Senhor dos tempos. Não há explicação natural para o que passou a acontecer. . Fomos postos à prova.
Inesperadamente o mundo parou. O vírus pôs medo sem distinguir ricos e pobres. Obrigou as populações a adotarem o isolamento social como escudo de proteção. Promoveu a horizontalidade na vulnerabilidade humana quanto à contaminação que ameaça a vida. Seu alcance letal atingiu sem diferenciar classes sociais, econômicas ou políticas. Os que se imaginavam poderosos manifestaram-se igualmente amedrontados, porque não se viram imunes á sua malignidade.
O confinamento em massa exerceu um efeito didático para o ser humano. A sociedade foi cobrada a fazer uma reflexão profunda sobre o seu modo de viver. Reclusos em nossos lares, sem sabermos inclusive por quanto tempo, nos vimos forçados a rever valores, considerar a solidariedade como força motriz para enfrentarmos o novo tempo.
Não quero nem entrar no debate das questões econômicas que a epidemia suscitou. Prefiro me ater à análise do aspecto comportamental da humanidade. Ainda que a ciência possa sair vitoriosa no período pós-coronavirus, entendo que o ganho maior será na compreensão e na consciência de que deveremos redirecionar nosso caminho evolutivo. Estamos sendo acordados para uma nova realidade, que requer um olhar íntimo reconhecendo nossas limitações e imperfeições, respeitando a diversidade na experiência humana. Reunidos no ambiente do lar, como não fazíamos há muito tempo, fomos convidados a reavaliar a importância da vida no espirito de fraternidade, valorizando a convivência em família.
Essa transição no tempo não se limita a nós mesmos, mas em conjunto com os nossos semelhantes. A preocupação que nos dominou, não se restringiu às medidas de controle sanitário, mas também ao exame de quanto temos estado, até agora, presos ao egoísmo e à indiferença com a sorte dos que não são favorecidos com as políticas púbicas. Desprezemos o falso deslumbramento com nosso prestígio pessoal no ambiente que nos cerca.
O coronavírus nos fez perceber o quanto nossas vidas são frágeis. No conforto da meditação que o confinamento nos impôs, experimentamos um exercício mental que nunca tínhamos tempo de fazer. A convivência afetiva com os mais próximos, certamente reavivaram sentimentos e atitudes que estavam relegados a segundo plano: o amor, a parceria, a mutualidade, a cooperação recíproca. Esperamos vencer essa fase de segregação, acordados para nos interrogarmos se nossa existência deve se resumir ao trabalho, aos prazeres e á necessidade de buscarmos prosperidade econômica e financeira e sucessos individuais.
O dia seguinte ao coronavírus nos mostrará que “nada será como antes”. Toda transformação oferece oportunidades de se tornar algo que nunca existiu. Os sobressaltos que nos ameaçam são ensinamentos que permitem revisão de pensamentos e conceitos sobre razão de viver.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba