Opinião

O JOGO DE CARTAXO: Ele só abrirá mão da vice – para o PSB - Por Flávio Lúcio

“As peças começam a ser movimentadas no tabuleiro. Por estilo, Ricardo Coutinho nunca deixa a ofensiva para o adversário. RC às vezes se dispõe até a sacrificar peças para fazer avançar sua estratégia. Enquanto Cartaxo é mais conservador e prepara suas peças para a defesa, protegendo ao máximo o rei. Ele é um sobrevivente na política e põe em movimento um estilo de quem sempre espera por um erro do adversário, apostando no acirramento da disputa mais à frente, quando o jogo realmente se decide.

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O jogo de Cartaxo

Por Flávio Lúcio

Em um diálogo recente com um amigo de Facebook a respeito do estilo dos principais contendores da política paraibana atualmente (Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo), eu tentei comparar seus movimentos com uma partida de xadrez, comparação bastante comum, aliás, quando o assunto é política.

Escrevi eu na ocasião:

“As peças começam a ser movimentadas no tabuleiro. Por estilo, Ricardo Coutinho nunca deixa a ofensiva para o adversário. RC às vezes se dispõe até a sacrificar peças para fazer avançar sua estratégia. Enquanto Cartaxo é mais conservador e prepara suas peças para a defesa, protegendo ao máximo o rei. Ele é um sobrevivente na política e põe em movimento um estilo de quem sempre espera por um erro do adversário, apostando no acirramento da disputa mais à frente, quando o jogo realmente se decide. A questão é que Cartaxo está diante de um estrategista experimentado (Ricardo Coutinho) que parece não saber jogar na defensiva, e que não recua nem mesmo quando todos os indícios apontam para uma clara possibilidade de derrota. À exceção da eleição de 2012, esse estilo de RC tem dado certo.”

Deixando de lado a metáforas de enxadristas, é isso que temos visto. Desde 2013 até junho de 2014, quando foi anunciada a aliança PT-PSB, Ricardo Coutinho vem fustigando Luciano Cartaxo, o que aconteceu em várias ocasiões.

Especialmente a partir do início do ano, quando o clima político se acirrou de vez no país e na Paraíba, Luciano Cartaxo vem sendo cobrado indiretamente por Ricardo Coutinho por conta do seu envolvimento quase nulo na defesa do mandato de Dilma Rousseff.

A motivação tem um duplo sentido: um, afastar Cartaxo tanto da base social petista e constranger o prefeito em razão da proximidade com os tucanos pessoenses, de quem o prefeito recebe apoio; dois, ocupar um espaço que se encontra vazio de lideranças corajosas o suficiente para enfrentar esse duro embate político.

Com esse discurso, RC conquistou a liderança entre os governadores nordestinos e é, hoje, um dos principais interlocutores do governo federal na região. Há muito, muito espaço ainda a ser conquistado.

Nesse percurso, Coutinho foi aos pouco criando justificativas para o rompimento de uma aliança que, se foi importante para a vitória de 2014, não se pode afirmar que tenha sido decisiva, assim como eu sempre considerei a aliança de RC com Cássio, em 2010.

E se o fim da aliança PT-PSB realmente acontecer, como tudo indica, hoje, não representará sequer uma quebra de acordo, já que 2016 não entrou em discussão quando o acordo de 2014 foi fechado.

Cartaxo também joga

E deixou de entrar não por conta de qualquer ingenuidade de Luciano Cartaxo. Para entender isso, é preciso considerar os objetivos de longo prazo do petista.

Caso o apoio de Ricardo Coutinho à reeleição de Cartaxo tivesse sido antecipado em 2014, é quase certo que também seria incluída ali a exigência do PSB de indicar o candidato a vice, coisa que Cartaxo ainda hoje sequer aceita discutir.

E por uma razão muito simples: só Cartaxo tem o poder de ditar o ritmo da disputa porque só ele dispõe da iniciativa política e administrativa de sua gestão, que será julgada em outubro de 2016.

Da mesma maneira que RC fez no governo do estado, Cartaxo poderá fazer na Prefeitura de João Pessoa. É um poder e tanto, não é mesmo?

Isso significa estabelecer prazos para entregar obras, agir em pontos estratégicos da cidade, conquistar apoios. Não esqueçamos que Cartaxo tem o apoio de 23 dos 25 vereadores pessoenses.

Por isso, Cartaxo só abrirá mão da vice – para o PSB ou para qualquer outro partido – quando tiver clareza do seu exato tamanho em 2016, o que ainda está distante de acontecer. E essa é uma carta na manga que ele não está disposto a perder.

O que, claro, não significa desconsiderar os erros que podem ser cometidos por parte do petista, e alguns já aconteceram, como já apontamos por aqui.

RC age e discursa hoje para construir uma imagem para associá-la ao seu futuro candidato, e o faz com a competência de sempre. O problema é que não será ele o candidato, apesar da capacidade de transferir votos ser algo que sempre dependerá da campanha.

Aliás, até agora ninguém sabe quem representará o PSB na disputa, apesar de que, depois da entrevista que o governador concedeu ontem ao Conexão Master, a possibilidade de ser novamente Estela Bezerra cresceu bastante na minha bolsa de apostas.

Enfim, Cartaxo continua na defensiva, o que é certamente parte de uma estratégia. Pode ser que no final, com o tabuleiro mais vazio, ele inicie uma ofensiva na hora que considerar certa. E essa hora vai chegar.

E é bom ninguém subestimá-lo.