Opinião

O jejum de Francisco - Por Abelardo Jurema

Sou católico praticante, não por imposição familiar que me levou, quando criança, à pia batismal da Igreja da Matriz, no Rio de Janeiro, mas por minhas próprias convicções acumuladas ao longo de mais de sete décadas de vida, de experiências, livramentos e permanente aprendizado com a palavra de Cristo Jesus.

Marco BERTORELLO / AFP

Sou católico praticante, não por imposição familiar que me levou, quando criança, à pia batismal da Igreja da Matriz, no Rio de Janeiro, mas por minhas próprias convicções acumuladas ao longo de mais de sete décadas de vida, de experiências, livramentos e permanente aprendizado com a palavra de Cristo Jesus.

Remanescente do ECC, movimento da Igreja fundado na Paraíba pelo padre Juarez Benício, frequento, habitualmente, a missa aos domingos e, até mesmo, em dias de semana quando meu coração inquieto por vezes reclama paz espiritual. Gosto de rezar no silêncio da noite, nas horas de angústia, e também de agradecer em voz alta, em qualquer lugar onde ninguém me ouça sempre que sou contemplado com uma graça ou uma benção do Senhor; de conversar e me encher do Espírito Santo; de pedir perdão pelos meus pecados. Sinto-me mais leve ao praticar a caridade, ao ajudar o próximo e deixar alguém feliz.

Segundo os preceitos do catolicismo, estamos no tempo da Quaresma, “período de preparação para a celebração da Páscoa que é marcado por práticas de penitência, como jejuns e obras de caridade, durante um período de 40 dias que estende-se até a Sexta-Feira Santa. Aliás, sou do tempo em que a Sexta-feira da Paixão tinha um profundo significado para as famílias brasileiras, uma data sagrada em que as rádios modificavam a programação e executavam apenas músicas sacras ou eruditas, em respeito ao Senhor morto.

Durante a minha infância, na casa da Cesário Alvim, a prática do jejum ia muito além da proibição de comer carne, alimento banido do cardápio desde a véspera. As casas noturnas não funcionavam; restaurantes fechavam mais cedo e os bares não abriam porque não se consumiam bebidas alcoólicas. Era um ato espontâneo do povo cristão, solidário ao sacrifício daquele que veio ao mundo para nos ensinar o amor ao próximo e a receita de viver plenamente.

Em consonância com os costumes desses novos tempos, quando as relações humanas estão cada vez mais imediatistas, deterioradas e superficiais; quando o ódio e a intolerância prosperam por conta de divergências políticas e ideológicas; quando a violência intimida o direito de andar nas ruas e passear nas praças, a Igreja Católica promove a Campanha da Fraternidade com o tema “Amizade Social – Somos todos irmãos”, inspirada pelo papa Francisco:

– “Lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos àqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses, de estender o nosso amor a todo ser vivo, vencendo fronteiras e superando as barreiras da geografia e do espaço”, disse o papa.

E é o Sumo Pontífice que também nos ensina a melhor forma de vivenciar a Quaresma e permanecer fiel aos ensinamentos do Criador:

– Vamos fazer jejum de palavras negativas, de descontentamento, de raiva e pessimismo; de julgar as pessoas; de intrigas e “fofocas”; de queixas, de amarguras e de tristezas; nesses quarenta dias a penitência mais eficaz será a compaixão, o perdão, a tolerância, a conciliação e a reconciliação.

Amém, e que Deus nos abençoe a todos.

Fonte: Abelardo Jurema
Créditos: Polêmica Paraíba