Além dos impasses administrativos que enfrenta, como a necessidade de ter que cortar gastos de ministérios com a execução de programas sociais que são bastante caros ao seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convive com o dilema de concorrer ou não à reeleição em 2026 quando estará com 81 anos de idade. Ele tem segurado ao máximo a discussão dentro do próprio Partido dos Trabalhadores em torno do assunto, mas sabe que é inevitável a abordagem da questão diante da mobilização antecipada de forças políticas de direita e centro-direita e da própria pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para garantir elegibilidade no TSE, aproveitando a onda triunfalista desencadeada com a vitória do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, derrotando a candidata democrata Kamala Harris, atual vice-presidente de Joe Biden. A tentativa de alguns aliados de Lula de minimizar o reflexo da vitória de Trump parece inócua diante da realidade globalizada que o mundo experimenta.
Na última sexta-feira, respondendo a uma pergunta de Christiane Amanpour, jornalista da CNN Internacional, sobre ele ter 81 anos em 2026 e ainda assim tentar a reeleição, o presidente Lula procurou despistar recorrendo a metáforas. Como a de que “governar não é jogar futebol, não é praticar esportes, ou seja, não é o problema da juventude que vai resolver a governança. O que vai resolver o problema da governança é o compromisso, é a cabeça, é a saúde, são os compromissos do governante”. Com isso, o líder petista manobrou para tirar de pauta a questão do etarismo, que se tornou latente com o gesto do presidente americano Joe Biden de desistir da candidatura à reeleição, num atestado de dificuldades para continuar regendo os destinos de uma das maiores potências do planeta. No caso de Lula, o argumento a que recorre é que ainda não é candidato à reeleição e que só pensará nisso em 2026. De acordo com o mandatário, a ideia é entregar um país melhor do que recebeu e, em paralelo, somente disputará se as forças políticas daqui a dois anos decidirem que só ele poderá vencer o agrupamento de direita no Brasil.
– Então, se chegar na hora, os partidos entenderem que não tem outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema-direita, que seja negacionista, que não acredite na medicina, que não acredite na ciência, obviamente que eu estarei pronto para enfrentar, mas eu espero que não seja necessário, eu espero que a gente tenha outros candidatos e que a gente possa fazer uma grande renovação política no país e no mundo – assinalou o presidente Lula. Com todo o respeito ao presidente, a sua assertiva é uma falácia. O próprio Lula, à frente do Partido dos Trabalhadores, não incentivou concretamente uma renovação de quadros, quer no PT, quer no segmento de esquerda, deixando-se levar por interesses ou ambições personalistas. Lula é, indiscutivelmente, um fenômeno no cenário político nacional, mas é um fenômeno cujo prazo de validade dá sinais de exaustão. O terceiro governo que ele comanda atualmente não consegue avançar na formulação de políticas públicas eficientes ou em medidas econômicas capazes de deter a inflação – e, com isto, tem se evaporado o capital político que é imprescindível para assegurar a governabilidade. O PT de Lula, que saiu derrotado das eleições municipais deste ano, não tem maioria no Congresso Nacional e o governo é refém de uma coalizão de centro-direita pródiga em exigir concessões para aprovar matérias de interesse do Executivo na Câmara e no Senado.
Quando montou o esquema para viabilizar seu retorno à Presidência da República nas eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva teve a habilidade de formar uma frente ampla que pairou acima de posturas ideológicas. No dizer dele, foi uma “concertação” de forças políticas para preservar o regime democrático, ameaçado pelas atitudes fascistas do então presidente Jair Bolsonaro, a que se somou o negacionismo explicitado em plena ebulição da epidemia de covid-19, cujos efeitos catastróficos foram gravemente minimizados pelo então mandatário. Lula parecia condenado a ficar no passado dentro da dinâmica conjuntura política-institucional brasileira, mas ressuscitou em grande estilo a partir da sua prisão e, lá na frente, da anulação pelo Supremo Tribunal Federal das condenações que lhe haviam sido impostas. Com isso, dispôs de passaporte para retornar ao poder, ancorado em promessas de mudança e compromissos com a plenitude democrática. Os resultados, no que se refere ao desempenho administrativo, não têm correspondido às expectativas da opinião pública – e se o governo não está propriamente isolado, com certeza sofre desconfianças dos grupos formadores de mídia, exigentes na oferta de projetos exitosos para o país.
O “Poder360” informa que, sejam aliados ou opositores, ninguém aponta um nome óbvio que possa substituir o presidente nas eleições de 2026, caso ele decida não concorrer à reeleição, ou nas posteriores. Embora integrantes do Palácio do Planalto avaliam que Lula será candidato no próximo pleito, quando terá 80 anos na campanha eleitoral, admitem que não há atualmente um Plano B definido. Lula é visto como o único nome do campo de esquerda capaz de enfrentar o ex-presidente Jair Bolsonaro ou um preposto seu, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é igualmente cogitado. O cenário mostra que a oposição também pode ter dificuldade em decidir um nome competitivo para 2026. É nesse vácuo que o presidente opera ou legisla em causa própria, mas uma vitória sua na reeleição passa a ser catalogada no rol de incógnitas do processo político-eleitoral brasileiro.