opinião

O DESAPREÇO À DEMOCRACIA - Por Rui Leitão

. O movimento impatriotico em favor de um levante dos quartéis ganha repercussão, principalmente nas redes sociais

Estimulam a descrença nas instituições brasileiras para desenvolverem um sentimento de desapreço à democracia. Esse é um dos motivos para que alguns apontem soluções autoritárias como necessárias para vencermos essa crise ética e moral que estamos vivenciando. O movimento impatriotico em favor de um levante dos quartéis ganha repercussão, principalmente nas redes sociais.

O interessante é que os defensores da intervenção militar constitucional (ainda que a atual Constituição não permita isso), argumentam que essa seria uma forma de combater a corrupção, como se na época da ditadura já não existisse essa praga que desgasta o conceito de fazer política no Brasil. O problema é que para o brasileiro, corrupto é sempre o outro. Todo mundo se acha correto, sem perceber que no cotidiano comete desvios de conduta que podem ser considerados atos de corrupção. É uma questão cultural. A rede de corrupção não está restrita aos grandes escândalos denunciados espetacularmente pela mídia e por uma justiça seletiva.

Antes de um golpe militar, precisamos de uma revolução cultural. Um ajuste no comportamento moral da própria sociedade. Acabar, de uma vez por todas, com a máxima conhecida no mundo inteiro de que “o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo”, não importando a forma como vai conseguir o que quer. A confusão política dos tempos atuais nos leva a ignorar essa verdade e passarmos a imaginar que a ruptura da democracia produziria mudanças de comportamento. Tanto isso não é verdade que nos “anos de chumbo”, a corrupção foi marca das gestões militares. O problema é que ninguém podia denunciar, nem havia interesse oficial em investigar e punir os corruptos. A História tem desvendado nos arquivos os procedimentos de corrupção daquela época.

Então não é abrindo mão da democracia que chegaremos à purificação política de nosso país. Essa histeria exacerbada não ajuda em nada. Pelo contrário, inibe pensamentos responsáveis em busca de uma revolução cultural que possa produzir mudanças de mentalidade e de comportamento do nosso povo. Apontar o dedo para o outro em acusação é muito fácil, mas poucas pessoas se dispõem a fazer uma autocrítica. Muitos dos que condenam os que indicam como corruptos estão aí querendo justificar atitudes que desprezam conceitos mínimos de moralidade e ética (percepção de auxilio moradia mesmo tendo casa própria para morar, acordos politicos espúrios para garantia da sobrevivência no poder, regalias custeadas pelo erário, sonegação fiscal, abuso de autoridade, etc.).

Quem tiver honestidade intelectual, não pode concordar com o desapreço à democracia como muitos pregam. Inconcebível que se deseje abrir mão da capacidade de decidir nosso futuro, transferindo para uma elite governante fardada, desprezando vontades majoritárias. Tem uma frase de Abraham Lincolm que expressa bem isso: “nenhum homem é bom o bastante para governar outro sem seu consentimento”. Na democracia não se permite submissão a nenhum poder que não aquele que surge do próprio povo.

A luta que não pode ser desprezada é pela democracia. Ditadura nunca mais. Fora os vocacionados para a tirania.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão