opinião

O Churrasco da Morte – Por Francisco Airton

É desumano se imaginar alguém realizando uma festinha no seu bairro regada a cerveja, carne fresca e sal grosso, enquanto uma família chorosa e amigos velam o corpo de um ente querido a apenas duas casas depois da sua! É cruel e quase impossível se imaginar algo assim, certo? Errado! Pois pode, ainda, ser bem pior!
Enquanto o país agoniza em leitos de hospitais superlotados, macas improvisadas ou até mesmo nas próprias residências, – uma população, em sua maioria negra, idosa e pobre – por toda a periferia das cidades, com profissionais usando equipamentos quebrados, respiradores sucateados e EPIs reutilizados ou improvisados, pondo em risco a vida de seres humanos (pacientes e profissionais de saúde), um grande churrasco palaciano pode estar acontecendo neste sábado, em pleno Planalto Central, regado a muita picanha e tudo, do muito, que se faz necessário em um churrasco na capital do Brasil!

O anfitrião dessa festa pútrida e nefasta não poderia ser outro, se não o próprio Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, escolhido por milhões de alucinados para guia-los até o paraíso! O mundo todo foi surpreendido (?) ontem, dia 08 de maio, pelo Mestre dos Horrores ao convidar para um churrasco reservado inicialmente para 30 pessoas e logo evoluindo para 1.300. É surreal esse momento em que o mundo se desdobra para enfrentar a ameaça invisível, e milhões continuam sendo infectados, com milhares morrendo (pais, mães e filhos de alguém), sem poder respirar, enquanto quem ainda não contraiu a doença, sequer pode se despedir, dar um último adeus! Como num incêndio colossal, médicos, enfermeiros e técnicos – verdadeiros brigadistas – tentam, muitas vezes em vão, salvar vidas anônimas e que também, muitas vezes acabam, sendo arrastados e engolidos por um inimigo silencioso, letal e impiedoso! Muitos desses heróis já se foram, principalmente aqui, onde o descuido e o descaso das autoridades deixaram sucatear hospitais, sempre pagaram mal aos bons profissionais e sim, criminosamente, negligenciaram no mais crucial dos temas de todas as campanhas políticas para (governador, prefeito, deputado, vereador, senador e presidente), a saúde do cidadão!

O homem que foi escolhido por uma elite, tão criminosa quanto ele, para conduzir os destinos dessa nação, tem se mostrado totalmente incapaz e ineficiente na sua missão de comandar um país e tem produzido ao longo desses 16 meses desde que assumiu, para um mundo totalmente aturdido – ao invés de ações edificantes, projetos de benefícios para a população – cenas deploráveis e indignas para um chefe de um país, principalmente um gigante de dimensões continentais como o Brasil! Por todo esse tempo o Capitão tem apenas repetido tudo o que fez pelos quase 30 anos como parlamentar, ou seja: absolutamente nada! Sempre que pode – e ele pode sempre – apenas aproveita para tripudiar sobre os seres inferiores, (a população) pobres e cada dia mais abandonados pelo poder público!

A verdade é que, desde que se iniciou a pandemia no mundo, Bolsonaro tem procurado minimizar a crise (que sempre esteve longe de ser apenas uma crise econômica), mas sim, uma crise crescente de morte que se abateu e se alastra por todo o país e até então, só tem ceifado vidas! Que líder é esse que parece nutrir um ódio profundo pela humanidade, cuja a pobreza lhe fede nas ventas a cada contato? Que dissemina um ódio mortal pelas minorias e que é capaz de guiar esse mesmo exército para que possa cumprir seus reais intentos? Que líder é esse que toca a sua flauta de morte, atraindo o seu povo para o precipício como se a vida não lhe valesse nada? Que liderança é essa que simplesmente desdenha sobre ás milhares de mortes registradas em sua terra – “E daí? Não sou coveiro” – “Eu sou Messias, mas não faço milagres” e que arranca gargalhadas no cercadinho em que cultiva o seu gado, na saída do Palácio?

Quem é esse senhor que sobe e desce a rampa do seu palácio – presente que lhe foi generosamente dado por essa mesma população que se dizia massacrada pela esquerda? Muito triste o cenário que se apresenta a mim nesse exato momento em que tento entender a razão de tanto ódio e desdém pela vida humana (até o momento em que escrevo esse artigo, já somam mais de 10 mil mortos e, dos quais, muitos sem que lhes fosse dada, pelo menos, a dignidade de poder respirar antes de morrer)! As secretarias estaduais de Saúde confirmam no país 146.894 casos do novo coronavírus, com 10.017 mortes. Que líder é esse que fecha os olhos e abre um largo sorriso para tanto sofrimento? São tantos os questionamentos…!

Agora mesmo, no momento em que é publicado esse texto, esse “chefe” que parece guardar toda a sensibilidade no bolso traseiro das calças ou mesmo na confortável sandália de churrasqueiro, se regozija em um festivo churrasco cercado – provavelmente – por 1.300 pessoas, também, sorridentes e festeiras, totalmente alheias ao sofrimento de milhões de pessoas que enterram (ou não) parentes – todos com nomes e sobrenomes – em valas comuns e coletivas, sem sequer poder se despedir! Acreditem: essas pessoas que se refestelam num churrasco presidencial, são tão criminosas quanto o próprio churrasqueiro! Você que lê esse artigo e já que chegou até aqui e defende esse festim diabólico, você, também, é responsável por esse caos por que passa o Brasil! Não entendo muito como isso funciona, mas sei que existe a chamada Lei do Retorno e tudo que é feito aqui (de mal ou de bem) acaba voltando em dobro! E aí não se perde por esperar, não é mesmo?

Num tom de deboche no mesmo dia em que o Brasil registrou um novo recorde diário de mortes por coronavírus (751), Bolsonaro não somente confirmou o churrasco no Palácio da Alvorada neste sábado (9), mas também que aumentou o número de convidados: de 30 pessoas, ele disse na tarde dessa sexta-feira, 08, que chamou 1,3 mil para a confraternização “e quem sabe até uma peladinha”… Na coluna Radar da revista Veja, do jornalista Robson Bonin, dentre outras afirmativas, ele diz que “Neste sábado de churrascada para Bolsonaro, 751 famílias estarão enfrentando o horror de enterrar parentes queridos que morreram nas últimas 24 horas vítimas de coronavírus. E sem direito a velório”. Então, numa profecia de quem não precisa fazer qualquer esforço para parecer um Nostradamus, acrescenta: “Enquanto a turma estiver festejando no Alvorada, brasileiros perderão a vida, famílias enterrarão seus mortos e milhares chorarão de saudade no sétimo dia”! Muito triste se imaginar, mas, “Enquanto Bolsonaro estiver comendo sua picanha, um número igualmente devastador de pessoas estará morrendo nos hospitais neste sábado”. “Será com esses números que o churrascão de Bolsonaro entrará para a história do país”.

E sem medir as consequências, em nova afronta ao isolamento social, Bolsonaro disse ainda que pretende visitar a mãe daqui a duas semanas. Dona Olinda Bolsonaro tem 93 anos e mora em Eldorado, região do Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, e integra o grupo de risco do novo coronavírus.

É lamentável estarmos falando aqui de tanto descaso, tanto desdém pela vida humana. Principalmente quando todo esse deboche é oficial e traz um carimbo federal! Afinal, governos são eleitos para governar e cuidar do seu povo e não para massacrar, impor o terror e obrigar esse povo a rastejar! Seria muito bom que os tiranos entendessem que o poder pode ser efêmero e o algoz de hoje, cercado de “pobres” criaturas assustadoras e violentas, pode já não estar mais no trono em outro breve momento! O certo é que a história lhes cobrará e as pessoas não perdoarão a tirania! A primavera há de chegar e então… !

Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton