Primeiro, o personagem. O padre jesuíta Gabriel Malagrida foi um religioso nascido em Milão, na Itália, que viveu entre os séculos XVII e XVIII e viajou muito pelo Norte e pelo Nordeste do Brasil. Passou a maior parte do tempo que viveu em solo brasileiro entre o Pará e o Maranhão, mas com passagens também pela Bahia e pela Paraíba. Sua missão: catequizar índios e gente da terra em obediência a princípios cristãos.
Com esse objetivo fundou igrejas e seminários, viveu perigos incomensuráveis e terminou garroteado e queimado em ato de fé da Santa Inquisição, na cidade de Lisboa. O seu assassinato se deu, portanto, aparatado com muita crueldade. O responsável maior por isso foi o impiedoso Marquês de Pombal, inimigo declarado da Companhia de Jesus, que influenciou o Tribunal do Santo Ofício. Ele não admitia a proteção indígena patrocinada pelos seguidores de Santo Inácio de Loyola. Na Paraíba, Malagrida conseguiu um grande feito recebendo autorização real, além de esmolas e doações locais, para constituir o Seminário da Paraíba.
Justamente no conjunto jesuítico formado pelos atuais prédios da Faculdade de Direito e do Palácio do Governo. (Que tinha no meio dos dois uma igreja, hoje inexistente, sob a inspiração de Nossa Senhora da Conceição, embora no início da história toda tenha sido uma capela denominada de São Gonçalo, padroeiro dos jesuítas. Tudo isso, evidentemente, uma outra história). Agora, o beco. Acontece que no contemporâneo traçado urbano pessoense, ao lado da atual Faculdade de Direito (parte do antigo conjunto jesuítico, como já falei) começa a rua Irineu Pinto, homenagem a um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. É uma via que segue até a Maciel Pinheiros, lá embaixo.
O espaço entre a Praça João Pessoa e a General Osório é que ficou conhecido como Beco Malagrida (mas também como Beco da Faculdade). Esse espaço da rua é completado por uma escadaria que permite ao transeunte chegar à calçada da rua General Osório. Como carro não vive descendo escada, durante o dia o espaço calçado de paralelepípedos serve de estacionamento para carros. À noite, é dominado por boêmia e prostituição. Apesar de tudo isso, e mesmo por isso, foi que uma barulhenta, corajosa e animada turma, sob a liderança da ativista cultural Ednamey Cirilo, resolveu, certo tempo atrás, ocupar o ambiente com muita alegria e arte.
A primeira providência foi instalar no local o bloco Anjo Azul. Depois aviaram outras reinações culturais onde cabem feirinhas de artesanato e manifestações diversas patrocinadas pela Confraria do Beco (ou Confraria de Malagrida). Em meio a esses procedimentos vitalizadores, artistas grafiteiros encheram os degraus da escadaria com pinturas. Dessa forma, embelezaram a paisagem com vistas a emprestar novos ares ao beco.
Enfim, toda essa turma parece mesmo decidida a manter o recinto público sob vigilância cultural, na procura de alertar as autoridades sobre a obrigação de agirem de maneira sempre mais forte para preservação do emblemático centro histórico de João Pessoa.
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba