O ano de 1968 caracterizou-se pelo fortalecimento dos movimentos de esquerda nos países do Ocidente, tanto no plano político, quanto no ideológico. Fatores históricos, culturais e políticos suscitaram um movimento social chamado de contracultura, concorrendo para emergência de novas “identidades” coletivas. Ficou conhecido como “o ano que não terminou”. Vivi essa época.
Eram atos de vontade política, com manifestações contrárias à concepção de mundo até então vivenciada, em todas as suas vertentes. Os jovens, representando esse movimento revolucionário, ocuparam as ruas desfraldando as mais diversas bandeiras: o feminismo, a luta pela paz mundial, críticas às formas burocráticas de organização social, contra o racismo, libertação nacional (nosso caso por estarmos sob o jugo de uma ditadura militar), ecologia, liberdade de expressão, direitos humanos, etc.
No Brasil as frentes de contestação política e social tiveram como protagonistas, os estudantes, os operários, e uma agitação cultural promovida por intelectuais e artistas. Foi, sem dúvida, deflagrada uma onda mobilizadora sem precedentes na nossa História, rebeliões sociais questionadoras da ordem reinante. O “Maio de 1968”, da França, foi diferente em nosso país. Aqui foi o ano inteiro, até o AI-5. A geração de 1968 pagou caro por ecoar o grito de rebeldia contra o sistema vigente.
Todavia, 1968 foi um ano mítico. Um marco simbólico. O sociólogo francês Edgar Morim diz que foi “o ano de êxtase da História”. No Brasil foi um movimento de vanguarda, com parte da sociedade reagindo contra o ataque à democracia que a ditadura militar estava impondo, sob o argumento de que essas manifestações populares eram lideradas por militantes da esquerda, consideradas pelo regime como “subversivas” ou “comunistas”. Porém foi uma geração que não se acovardou. Exerceu plenamente sua consciência crítica.
Quando fazemos o paralelo com o ano de 2018, vimos o Brasil dando uma guinada para a direita, com a concordância passiva de boa parte da população, incluindo aí muitos jovens. Se em 1968 todos lutávamos para sair da ditadura militar, em 2018 renasceu uma orientada ação política no sentido inverso.
Vitoriosos numa eleição estrategicamente municiada para levar a extrema direita ao poder, passaram a adotar medidas governamentais no sentido de negar o passado, estimulando posturas antidemocráticas, num esforço saudosista de considerar a ditadura militar como um regime que fez bem ao Brasil.
Tentaram a todo custo tornar esquecido o grito da geração 1968, em favor das liberdades democráticas.
O “mito” virou coisa séria, proferindo um falso discurso de anti-estabilishment, dando voz à contracultura conservadora. A inversão de 1968. Uma política que girou em torno de rótulos: “herói” ou “bandido”, entrando na curva escura do caminho. Entretanto, podemos concluir que de 1968 a 2018, a luta não terminou para os que defendem a democracia, abrindo perspectivas de uma nova era de inclusão social e desenvolvimento econômico. Os inimigos da democracia em 1968 vestiam farda. Em 2018 eles vestiam ternos e togas.
Felizmente, em 2022, a maioria do povo brasileiro acordou para a realidade. A democracia venceu.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba