Para funcionar e apresentar resultados, todo governo precisa ter o máximo de unidade interna possível, caso contrário, o caos político se estabelece e os impactos administrativos se tornam inevitáveis.
A confusão que tomou conta do governo Bolsonaro é um exemplo vivo dessa afirmação. Falta a Bolsonaro, além de lastro político e experiência administrativa, uma diretiva que dê unidade ao seu governo.
Essa percepção Ricardo Coutinho mostrava ter de sobra e não se pode questionar que ex-governador perseguiu esse objetivo com tenacidade e, às vezes, dureza. Por isso, não havia bate-cabeça nem divergências públicas entre seus assessores. Pelo contrário, havia uniformidade nas ações porque todo o governo, incluindo sua base parlamentar, falavam a mesma língua.
Tudo parece estar se perdendo no atual governo de João Azevedo, cada vez mais marcado pelos desencontros internos e disputas abertas na base parlamentar.
Por enquanto, tem faltado ao governador uma ideia clara sobre seu papel como liderança em torno da qual se articule o governo, sua base de apoio na Assembleia e seus apoiadores na sociedade. O resultado tem sido a propagação de insatisfações por todos os lados por conta do vácuo produzido.
Até jornalistas que odiavam o governo anterior e agiam como políticos de oposição, difundindo intrigas e informações para criar confusão e desgaste, hoje, como um passe de mágica, converteram-se na linha de frente de defesa de João Azevedo na imprensa, ao mesmo tempo em que, incansavelmente, estimulam a cizânia e o racha, sugerindo quase como um mantra ao governador mais “autonomia”, mais “independência” em relação a Ricardo Coutinho.
Certamente, nada disso é obra do acaso. Há mentes no atual governo por trás dessa mudança. E ontem a deputada estadual Cida Ramos começou a dar nomes aos bois.
Em resposta a uma postagem que o jornalista Heron Cid publicou em seu blog tratando dos resultados de uma reunião da direção do PSB (Heron claramente demonstra ter informantes lá), Cida escreveu:
“O governo João Azevedo foi constituído de alguns que tinham uma espécie de ‘direito adquirido’ pela construção do projeto, sem buscar dividi-lo, e outros que foram indicados. Nonato Bandeira, por exemplo, está nessa segunda categoria e foi um dos poucos indicados por Ricardo Coutinho, apesar das resistências”.
Ao ler essas palavras de Cida foi inevitável a sensação de déjà-vu como se eu estivesse revivendo enquanto lia um acontecimento do passado.
Nonato Bandeira foi o pivô do racha entre Luciano Agra e Ricardo Coutinho. Agra assumira a prefeitura a Prefeitura de João Pessoa, em 2010, depois da renúncia de RC para disputar o governo da Paraíba. Já no ano seguinte, Nonato estimulou Agra a iniciar um movimento de contestação interna à liderança de RC, que acabara de assumir o governo do estado. Como um kamikaze, Agra foi levado a disputar a indicação de candidato do PSB na disputa da prefeitura e, claro, foi derrotado.
O passo seguinte foi dado em direção do abismo político, que foi o apoio à candidatura de Luciano Cartaxo a prefeito, então no PT, com Nonato na vice.
Cartaxo poderia estar agradecendo a Nonato Bandeira esse presente até hojw, mas cuidou logo de defenestrar a quem praticamente o elegeu: Nonato, Luciano Agra e o grupo de remanescentes do PSB que o acompanhara naquela aventura.
Na eleição seguinte, a de 2014, Nonato Bandeira empurrou Agra para mais próximo do abismo, levando-o a apoiar a candidatura de Cássio Cunha Lima ao governo e impondo uma humilhação ao ex-prefeito: ocupar uma das vagas de suplente de Wilson Santiago, candidato ao Senado naquela eleição. Nonato foi candidato a deputado federal.
O resultado daquela eleição todo mundo conhece: Cássio, Wilson Santiago, Luciano Agra, e o próprio Nonato foram derrotados e a importância que Luciano Agra adquirira como ex-prefeito de João Pessoa esfumou-se no ar.
Nonato estava destinado ao completo ostracismo político não fosse Ricardo Coutinho a atitide de Ricardo Coutinho de relevar o passado e convidar o ex desafeto a coordenar a campanha de Cida Ramos à prefeitura de João Pessoa na eleição de 2016 e, depois, para compor a administração estadual.
Segundo Cida Ramos, Ricardo renovou mais vez a confiança em Nonato indicando-o à permanência no governo de João Azevedo, bem como de outros assessores graduados que tiveram muito poder no governo anterior.
Tentei resistir à tentação de terminar esse texto fazendo uma analogia com a fábula do elefante e do escorpião, isso para não me auto-atribuir o papel de conselheiro, que é o que uma tartaruga assume na estória.
Não consegui, mas vou me deter apenas a sugerir que o governador João Azevedo não assuma o papel que é do elefante nessa fábula.
É o que lhe resta, porque o papel do escorpião já tem dono.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Polêmica Paraíba
Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio