O anúncio angustiante do comunicador Nilvan Ferreira (PL) sobre a sua desistência de disputar a eleição de prefeito de João Pessoa este ano, alegando perseguição de seu próprio partido, traz à tona uma nova discussão sobre o sistema político brasileiro que não oportuniza ao cidadão poder ter uma candidatura avulsa, o que pode ter uma razoável interferência no Estado Democrático de Direito, pois tolhe sua liberdade de escolha. Inclusive, isso nos remete ao que diz o escritor português José Saramago: “Estamos numa situação em que a democracia que, segundo a definição antiga, é o governo do povo, para o povo e pelo povo, nessa democracia precisamente está ausente o povo”.
Esse caso específico de Nilvan Ferreira é típico de uma democracia em retrocesso, o que nos faz lembrar um passado hostil já vivido pelo nosso país há tempos atrás. Aliás, o Pastor Sérgio Queiroz, candidato mais votado para o senado federal em João Pessoa na eleição 2022 trouxe à baila sua opinião, a qual se solidarizou com a situação política vivida pelo cajazeirense Nilvan Ferreira, inclusive, fazendo apelo ao próprio ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, para que haja uma discussão sobre esse formato do sistema político do Brasil, disse Sérgio Queiroz: “É muito fácil (mas iníquo) lutar para ganhar uma eleição impedindo que seu oponente concorra. Senhor Ministro Barroso, como cidadão comum, peço respeitosa e humildemente que Vossa Excelência paute o processo que trata as candidaturas independentes. Não deixe que os partidos políticos mandem na democracia. O que aconteceu em João Pessoa é um absurdo e um retrocesso civilizacional”.
Do ponto de vista político partidário, foi mais do que visível a humilhação sofrida por Nilvan Ferreira que sempre pregou lealdade à filosofia política do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi escrachante, algo surreal, pois perdeu sua luta para o ex-ministro da saúde Marcelo Queiroga, um candidato sem nenhuma expressão política, mas que foi empurrado de goela abaixo, e que já tem em vista uma esmagadora derrota, já que com a saída de Nilvan, a disputa pela prefeitura da capital será polarizada pelas candidaturas de Cícero Lucena (PP), atual prefeito, e o deputado Ruy Carneiro (PSDB), que vai para mais um embate eleitoral e com muita chance de angariar a maioria dos eleitores de Nilvan Ferreira, acirrando ainda mais o pleito na capital paraibana de 2024.
Diante de tudo isso, observa-se que a saída de Nilvan só enfraquece o bolsonarismo na capital, haja vista que o apresentador leva consigo o apoio dos deputados Cabo Gilberto Silva (PL) e Valber Virgulino (PL), deixando o candidato Marcelo Queiroga (PL), apenas com o apoio da família do deputado Wellington Roberto (PL), que não possui nenhuma influência política em João Pessoa, ou seja, a candidatura de Queiroga já nasce praticamente morta do ponto de vista político, esperando tão somente pelo apoio do ex-presidente Bolsonaro, o que não deve ter grandes repercussões.
Esse esfacelamento do PL na capital tem reflexões diretas no pleito de 2026, tendo em vista que fica nítido um bolsonarismo mais fragilizado para as próximas eleições, pois estão demonstrando ao seu eleitorado muita desconfiança cujas consequências poderão vir com o gosto amargo de derrotas. Vamos aguardar o desfecho desta história, pois como diz o ditado “Quem com o ferro fere, com o ferro será ferido”.
E como sempre diz este jornalista que vos escreve: “quem viver, verá”.
Fonte: Gildo Araújo
Créditos: Gildo Araújo