Opinião

Na queda-de-braço pela vaga no TCE, Galdino emplaca projeto familiar - Por Nonato Guedes

Foto: Reprodução/ Internet
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Paraíba - O deputado Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa e pré-candidato ao governo do Estado em 2026, venceu, como era esperado, a queda-de-braço pela indicação à vaga de conselheiro do Tribunal de Contas, emplacando um projeto familiar representado pela sagração da filha Allana Galdino, médica e advogada, que teve assinaturas de 30 deputados estaduais.

Galdino se obstinou em ganhar a parada e movimentou-se com afinco nos bastidores, removendo possíveis obstáculos e dobrando resistências de parlamentares da base governista que chegaram a ensaiar postulações mas desistiram por não reunir apoios suficientes, casos de Taciano Diniz e Jutay Meneses.

Focado no objetivo de valorizar o “clã” familiar, Adriano chegou a cogitar o nome do irmão Murilo Galdino, deputado federal e ex-coordenador da bancada em Brasília, que parece ter avaliado não ser estratégica a sua escolha. O governador João Azevêdo, a quem cabe encaminhar ao TCE o nome escolhido, foi mantido à margem de influência maior no processo e teve dificuldade agravada pelo fato de estar em viagem a Portugal, onde “vendeu” o produto Paraíba a grupos empresariais e investidores importantes.

Tanto os deputados de oposição como deputados da base governista ficaram impotentes diante do poder de liderança do presidente Adriano Galdino na Casa de Epitácio Pessoa, o que já havia sido demonstrado nas ocasiões em que ele logrou ser reconduzido ao comando do Poder Legislativo. Meticuloso nas suas ações de ofensiva política, Adriano conquistou espaços fulminantes no cenário local que desautorizam qualquer orquestração para subestimá-lo nas bandeiras e pretensões que empalma ou abraça.

No último processo de eleição à Mesa do Legislativo, foi colhido por decisão do Supremo Tribunal Federal considerando nula qualquer antecipação do processo de escolha de dirigentes do Poder – e, em meio a rumores de que havia perdido a batalha, surpreendeu a todos promovendo mudanças no regimento interno que o adequaram à norma constitucional maior, viabilizando-lhe mais um mandato à frente da Assembleia.

Concluirá sua passagem pela Casa igualando o período de dois mandatos de quatro anos de João Azevêdo no governo do Estado, uma proeza na história do processo político-partidário da Paraíba.

A vaga no Tribunal de Contas foi aberta após a aposentadoria compulsória do conselheiro Arthur Cunha Lima, e o posto é cobiçado não apenas por políticos mas por expoentes de setores da sociedade, pelas vantagens que proporciona e pela vitaliciedade que lhe é inerente.

Allana deverá ser a primeira mulher na história a compor a Corte de Contas e, de acordo com Adriano, preenche todos os requisitos exigidos pela Constituição para se habilitar a uma cadeira no Tribunal, que foi criado no governo João Agripino Filho, no final do seu mandato, em início da década de 1970 e que atualmente é presidido pelo conselheiro Fábio Túlio Nogueira.

Na próxima semana, o nome da ungida passará pelo ritual previsto em lei, a exemplo de sabatina na Comissão de Constituição e Justiça e aprovação em plenário. O deputado Hervázio Bezerra, do PSB, que perdeu a presidência da Assembleia num dos embates com Galdino quando tentou se viabilizar a tanto, estava de olho na vaga de Arthur, mas sabia-se que o cenário favoreceria o grupo do atual presidente.

Taciano Diniz, que se mexeu para ocupá-la, não juntou sequer 12 assinaturas para entrar na batalha e uma contadora de Patos, Clair Leitão, desistiu da disputa por falta de apoio. Desabafou que estava diante de um sistema fechado onde poucos se comprometem.

Embora o direito de indicação coubesse à Assembleia Legislativa do Estado, havia a expectativa de que o governador João Azevêdo, de alguma forma, tivesse ingerência no processo, opinando e trocando impressões sobre nomes cogitados. A ofensiva de Adriano Galdino foi facilitada, em grande parte, pela desistência do deputado estadual Tião Gomes em pleitear a vaga, mesmo tendo agregado apoios de cerca de 25 parlamentares de um total de 36 para a postulação.

Tião largou a batalha por estar “subjudice”, enfrentando pendências judiciais que dificilmente seriam equacionadas em tempo hábil para se registrar a essa primeira vaga aberta (mais duas serão abertas, com as aposentadorias dos conselheiros Fernando Catão e Nominando Diniz). No vácuo do impasse, Adriano Galdino pôs em prática o seu senso de oportunidade e passou a trabalhar 24 horas por dia para viabilizar solução que já tinha em perspectiva.

Cercou-se, então, de um grupo de deputados fiéis, como Felipe Leitão, seu atual vice-presidente, e deu partida ao processo que culminou, ontem à noite, com a confirmação de sua filha para o Tribunal de Contas do Estado.

Em entrevistas em João Pessoa, antes da viagem à Europa, o governador João Azevêdo manifestou o interesse de ser consultado a respeito das articulações que estavam se processando, tendo o cuidado de deixar claro que isto não constituiria interferência indébita e que respeitaria a autonomia do Legislativo.

A viagem de uma semana a Portugal atrapalhou qualquer estratégia que estivesse fadada a êxito e, nesse ínterim, Adriano Galdino operou abertamente para liderar o processo. A conquista dessa vaga, reforçada pelo fato de privilegiar uma filha, é um elemento adicional do projeto de expansão dos tentáculos do “clã” Galdino na cena política estadual, cujo ponto culminante deverá ser o lançamento de Adriano como candidato a governador, em meio, também, a impasses que envolvem a base do próprio governador sobre nomes viáveis para encarar o desafio de sucedê-lo no Palácio da Redenção.

Adriano coleciona mais uma vitória na queda-de-braço com o Executivo, mas teve a habilidade de não fechar as portas. E foi assim que, antes da escolha do nome para o TCE, agilizou a aprovação de projetos do Executivo com pedidos de autorização para contratação de empréstimos para reforçar o caixa do Estado.