eleição “isolada”

Mariz, Cícero, Maranhão: agraciados na “disputa solteira” ao Senado - Por Nonato Guedes

A disputa para o Senado em 94 consagrou dois líderes de expressão – Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima, em dobradinha com a candidatura ao governo de Antônio Mariz, que derrotou Lúcia Braga

Nonato Guedes

Desde a Constituição de 1946 vigora o dispositivo prevendo a renovação de 2/3 e de 1/3 das cadeiras do Senado Federal a cada quatro anos. Neste último caso, apenas uma vaga entra em jogo, caracterizando a chamada “disputa solteira” para mandato que tem duração igual, de oito anos. É o que vai acontecer nas eleições de 2022, quando, pela Paraíba, haverá eleição para a cadeira do senador José Maranhão (MDB), que morreu de complicações da Covid-19 e está sendo ocupada por Nilda Gondim, que era a primeira suplente. Além de Maranhão, outros políticos de destaque no Estado arriscaram-se em disputas isoladas ao Senado, como o ex-governador Antônio Mariz e o atual prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, também vitoriosos nos embates.

Mariz elegeu-se senador em 1990, pelo PMDB, num confronto memorável com seu conterrâneo da política sousense Marcondes Gadelha, do PFL. Marcondes tentava renovar o mandato conquistado em 1982, quando migrou do PMDB para o PDS-PFL e derrotou nas urnas uma legenda política no Estado – o ex-governador cassado Pedro Gondim. Nesse ano, Mariz concorreu ao governo, enfrentando Wilson Leite Braga, para quem perdeu por uma diferença de 151 mil votos. A eleição de 90 ao Senado deu seguimento à rivalidade política então cultivada entre Mariz e os Gadelha, que acabaram se reconciliando quando Mariz foi eleito governador em 1994 e chamou Marcondes para ser seu secretário de Agricultura. Mariz morreu em setembro de 1995, por complicações decorrentes de um câncer, e foi substituído no governo pelo vice José Maranhão. Marcondes reside em Brasília e é presidente regional do PSC.

A disputa para o Senado em 94 consagrou dois líderes de expressão – Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima, em dobradinha com a candidatura ao governo de Antônio Mariz, que derrotou Lúcia Braga. Com a eleição de Mariz ao governo ascendeu ao Senado o empresário Ney Suassuna, que era suplente. Em 98, apresentando-se ao eleitorado como “o senador do Zé(Maranhão)”, Suassuna renovou nas urnas o mandato no Congresso, mas em 2006 foi derrotado por Cícero Lucena, então integrado à coligação que elegeu Cássio Cunha Lima, mais uma vez, ao governo do Estado. Uma nova eleição “solteira” ao Senado deu-se em 2014, favorecendo José Maranhão, que enfrentou candidatos como Lucélio Cartaxo, Wilson Santiago e outros nomes oriundos de legendas pequenas. Para a cadeira que foi de Maranhão e hoje é ocupada por Nilda já se habilita como candidato, desde agora, o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, que espera fazer dobradinha com o governador João Azevêdo (Cidadania), candidato à reeleição. “É um desafio que resolvi aceitar em nome da renovação e como extensão da minha trajetória política”, revela Efraim Filho.

Na campanha de 98 em que Ney Suassuna ganhou a vaga foram candidatos, igualmente, o ex-governador Tarcísio Burity, a ex-prefeita de Campina Grande, Cozete Barbosa e o jurista Francisco Asfora. Burity tentou colar-se à campanha de Maranhão para a reeleição, mas enfrentou uma concorrência desigual por parte de Ney Suassuna, em termos logísticos, e também problemas de saúde que afetaram sensivelmente o ritmo de sua mobilização. Burity demonstrava não ter muita apetência pelo Senado, embora, na única vez em que foi deputado federal tenha se destacado em campanhas cívicas e defendido propostas de alto nível. O Executivo, porém, era seu “habitat” preferido – e a ele Burity ascendeu em duas oportunidades, uma por via indireta, em 1978, a outra por via direta, em alto estilo, no pleito de 1986 quando derrotou Marcondes Gadelha por quase 300 mil votos de maioria.

O Senado Federal atrai não apenas políticos de carreira, mas empresários, alguns dos quais são requisitados para suplentes, com o compromisso de assumirem a titularidade em intervalos do período de oito anos do mandato. Ney Suassuna começou como suplente, acabou conquistando a vaga principal e atualmente é novamente suplente, do senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do diretório estadual do MDB. Em 1986, porém, o empresário Raimundo Lira, revendedor de automóveis em Campina Grande, foi adotado como candidato ao Senado pelo PMDB juntamente com Humberto Lucena, que pleiteava a reeleição. Lira foi tratado na mídia como “azarão” no começo da campanha, por ser um ilustre desconhecido no meio político. Protagonizou um feito com características de reviravolta, ao derrotar o ex-governador Wilson Braga, que havia deixado o governo do Estado para se aventurar ao Congresso. Posteriormente, Lira voltou à suplência, no mandato de Vital do Rêgo Filho, tendo ascendido à titularidade.

Empresários como José Carlos da Silva Júnior, recentemente falecido, e Roberto Cavalcanti, dono do Sistema Correio de Comunicação, foram suplentes de senador, respectivamente, de Ronaldo Cunha Lima e de José Maranhão. Ambos destacaram-se na tribuna com pronunciamentos em defesa de reivindicações do Nordeste e, especialmente, da Paraíba. O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do grupo CAOA, que se sobressaiu como o maior revendedor da Ford no Brasil, tentou, inutilmente, figurar numa chapa do PMDB como suplente de senador na década de 80 e, desiludido, retomou seus negócios, deixando de lado a política mas sem perder o contato com os políticos. Já o empresário José Gonzaga Sobrinho, “Deca do Atacadão”, com ramificações no sertão paraibano, foi suplente do senador Cássio Cunha Lima (PSDB).

A eleição “isolada” para senador, por um lado, é considerada arriscada, que exige muito empenho, sobretudo, por parte do candidato, o principal interessado na vitória. Mas, por outro lado, a eleição “casada”, com dois candidatos a senador, nem sempre é garantia de união e desperta, mesmo, desconfianças entre parceiros de chapa, além de gerar emulação pela disputa de espaços entre os próprios companheiros de campanha. Em 2002, Wilson Braga tentou pela segunda vez chegar ao Senado mas foi atropelado na corrida pelo então deputado federal Efraim Moraes, que pacificou o então PFL em torno da sua candidatura e “colou” na imagem de Cássio Cunha Lima. Agora, Efraim Filho tenta seguir as pegadas do pai, “colando” na imagem de realizador do governador João Azevêdo e reforçando-se com apoio de deputados federais que serão candidatos à reeleição. Até o momento não há outros postulantes assumidamente definidos à vaga de senador em 2022.

Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Nonato Guedes