O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sinceramente, já foi mais engraçado quando produziu pérolas para consumo da mídia e dos seus áulicos do PT e partidos agregados. Na fase atual, voltou ao normal, ou seja, repetir besteiras e teorias apocalípticas que só podem derivar de cabeças esquisitas na exegese da conjuntura nacional e internacional. Partiu de Lula, em mais uma rodada de entrevistas à imprensa, ontem, na cela da PF em Curitiba, o raciocínio de que os Estados Unidos estão fortemente empenhados em destruir o Brasil. É uma cantilena que se arrasta a duras penas há pelo menos meio século com mais intensidade. Está certo: em 1964, por ocasião do golpe que instituiu a ditadura militar, os Estados Unidos estiveram por trás da deposição do presidente João Goulart e montaram a célebre operação Brother Sam – mas é sempre oportuno refrescar memórias e dizer que essa desenvoltura só foi possível porque havia adeptos no Brasil, aqueles senhores e aquelas senhoras (estas, com terços nas mãos) que, contritos, clamaram pela Pátria, por Deus e pela Liberdade. Funcionou – a um custo altíssimo por pelo menos 21 anos.
Depois, na Era petista, especialmente no governo de Dilma Rousseff, vazaram especulações de “espionagem” por parte de agentes da CIA infiltrados no Brasil ou de emissários da Casa Branca, que por meio de equipamentos sofisticados bisbilhotaram o que andava nas cabeças, nas bocas e nos becos desta Pátria. Os Estados Unidos sempre vão bisbilhotar o Brasil. Mais do que uma inveja diante do nosso clima tropical e das praias que inoculam o bronzeado sensual em belíssimas mulheres destas plagas, os governos que fazem o rodízio em torno da Casa Branca cobiçam, com olhos gulosos, o manancial de riquezas do nosso território, quer na Amazônia, quer no arquipélago de Fernando de Noronha. É preciso acentuar, em paralelo com essa constatação da estratégia expansionista americana, que nem sempre as intenções se casam com a realidade. Bem ou mal, o Brasil aprendeu a se defender das garras dos Estados Unidos. Já no governo Goulart, não obstante ele ter sido derrubado, pululavam aqui dentro os bordões que aconselhavam os ianques a baterem em retirada e nos deixarem em paz.
Lula talvez tenha se açodado, numa daquelas recaídas de fervor nacionalista que o acomete de tempos em tempos, diante da política de boa vizinhança do presidente Jair Bolsonaro com o governo do presidente Donald Trump. Nesse aspecto, assiste razão ao pajé petista. Bolsonaro não pratica propriamente uma política de boa vizinhança, o que seria compreensível ou palatável no universo das relações bilaterais do contexto pragmático entre Nações. O capitão-presidente exagera no sentimento americanófilo, a ponto de evidenciar uma estratégia de ajoelhamento, de submissão aos Estados Unidos. Isso dá nojo, envergonha a soberania nacional. Mas fora daí não há convicção provada de que as portas estejam escancaradas e que os ETs americanos estejam desembarcando em marines na costa territorial brasileira, prontos para tomar de assalto essa imensa terra que atrai holandeses, ingleses, portugueses e…americanos.
Fique sossegado o presidente-presidiário: ainda dá para controlar gestos de sabujice do presidente-capitão. Mais grave é o espaço ou a audiência que se dá, no Brasil, ao astrólogo Olavo de Carvalho, um vigarista pseudo-intelectual que, por óbvio, tornou-se guru da família Bolsonaro, do capitão-presidente aos meninos endiabrados que desfrutam de mandatos para pintar e bordar, não necessariamente nessa ordem. A última do Olavo? Pois aí vai: quer a cassação urgente dos partidos de esquerda que resfolegam no metro quadrado da sempre instável ordem institucional brasileira. Abalado por uma crise de daltonismo, Olavo de Carvalho passou a enxergar um mar de cores vermelhas disseminando-se Brasil afora. E como anti-democrata que o é, partiu para a velha tática autoritária: a do expurgo, da liquidação do contraditório. Porque não tem estofo – nunca teve – para conviver com críticas. Logo, é um desequipado para a coexistência democrática, um apanágio de poucos.
O Brasil caminha, então, entre essas besteiras e patacoadas, enquanto a falta de fosfato é generalizada, as alternativas inteligentes desaparecem do horizonte e o cenário é contaminado pela burrice. Na conjuntura de agora, pratica-se o inverso da célebre sentença de Calderón de La Barca – “ao rei tudo, menos a honra”. Aqui, ao “rei” se dá tudo, inclusive e, sobretudo, a honra. A vassalagem tem alcançado níveis repugnantes nestes trópicos na Era Bolsonaro. Perspectiva alguma de que possa vir a mudar? Não faço essa aposta, embora gostaria muito de fazê-la. Aqui, a esquerda continua burra – e a direita, como sempre, é tapada. Chegamos a isso!!!
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes