O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai mesmo perdoar políticos que votaram a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 desde que nas eleições deste ano eles “fechem” com sua candidatura à presidência da República contra Jair Bolsonaro. De acordo com a “Folha de S. Paulo”, Lula irá adotar o discurso da necessidade de unificação para derrotar Bolsonaro no pleito de outubro como forma de justificar alianças com parlamentares que votaram pelo impeachment de Dilma. Na Paraíba, cuja bancada federal votou majoritariamente pelo impedimento da ex-presidente, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), pré-candidato ao governo, é um dos principais interlocutores de Lula e avança, inclusive, na formação de chapa com o PT local, tendo o ex-governador Ricardo Coutinho como candidato ao Senado.
A “Folha” revelou que Lula tem indicado a interlocutores que não é possível discriminar quem votou contra Dilma porque isso seria fazer política olhando para o retrovisor. A avaliação é de que o momento histórico é outro e que não é possível fazer política somente com os que foram contrários à destituição de Dilma, uma vez que eles foram a minoria. Segundo fontes petistas, o ex-presidente chegou a afirmar que se sentaria à mesa apenas com 10% da população brasileira caso se restringisse aos que se opuseram ao impeachment de Dilma. Na bancada paraibana, na época, apenas três deputados ficaram com Dilma: Luiz Couto (PT), Wellington Roberto (PL) e Damião Feliciano (PDT). Votaram contra a ex-mandatária os deputados Aguinaldo Ribeiro, Pedro Cunha Lima, Veneziano Vital do Rêgo, Wilson Filho, Benjamin Maranhão, Efraim Morais, Hugo Motta, Manoel Júnior e Rômulo Gouveia.
Atualmente líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula tem defendido publicamente em entrevistas que o sentimento é de união para reconstruir o país e que isso requer fazer alianças para além do campo da esquerda. Ele tem rechaçado a pecha de que será vingativo se voltar à presidência e repetido que não deseja ser candidato do PT ou da esquerda somente, mas, sim, de um movimento mais amplo. Segundo relatos, esse discurso também ecoa internamente na sigla. Um parlamentar petista afirmou à “Folha”, sob reserva, que é de conhecimento do partido o papel que cada pessoa teve no impeachment mas isso não impede o diálogo com esses atores políticos. A principal fonte crítica a essa aproximação seria justamente o núcleo próximo a Dilma Rousseff. Há o consenso, internamente, porém, que ela terá de conviver com pessoas que viraram desafetos e que o partido seguirá defendendo a tese de que Dilma foi vítima de um golpe orquestrado pelo Congresso Nacional.
Lula – acrescenta a reportagem da “Folha” – já manifestou a aliados arrependimento por não ter disputado as eleições de 2014 no lugar da ex-presidente, mas insiste no apoio a Dilma. Apesar da defesa da ex-presidente e do legado de seu governo, Lula tem indicado que ela não deverá ocupar nenhum cargo no governo caso vença a próxima eleição. Em entrevista à rádio CBN do Vale do Paraíba neste ano, o petista disse que faltava a ela paciência. “Ela não tem a paciência que a política exige que a gente tenha para conversar e atender às pessoas, mesmo quando você não gosta do que elas estão falando”, disse. Segundo relato, uma das figuras que Dilma guarda mágoas é a ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, que se afastou do PT naquele momento e acabou se filiando ao MDB, partido de Temer. Dilma já admitiu a interlocutores que guarda mais mágoas de Marta do que do próprio Geraldo Alckmin, cujo antigo partido, o PSDB, é adversário histórico do PT. No entanto, Marta conta com a gratidão de Lula por sua atuação na campanha presidencial de 2002 e chegou a ser cotada para vice na disputa de outubro próximo.
A ex-prefeita de São Paulo tem se reaproximado de líderes petistas. Apoiadora da candidatura de Lula ao Planalto, ela não só participou do jantar que reuniu Lula e Alckmin em São Paulo em dezembro, como sentou à mesa com a dupla, enquanto Dilma não estava presente. Em janeiro, Marta organizou encontro com mulheres em sua casa para a discussão de projetos – Dilma não foi convidada. Marta admitiu que foi seletiva, começando a lista de convidadas pelas mais próximas, e acabou faltando muita gente. Já em fevereiro, Suplicy participou de um novo encontro com mulheres e Lula, ideia da socióloga Rosângela da Silva, noiva de Lula, para troca de experiências. Publicou três fotos do encontro, em uma delas abraçada a Lula. A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, esteve presente na ocasião.
Da parte de alguns políticos que votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff, tem havido manifestação de mea culpa pela posição favorável. Renan Calheiros (MDB-AL) disse à “Folha” que jamais votaria novamente pelo impedimento de Dilma e que manobrou como presidente do Senado para evitar maiores consequências para a carreira política da ex-presidente. Em janeiro deste ano, Renan Calheiros, que se projetou como relator da CPI da Covid no Senado, atacando o governo de Jair Bolsonaro, se reuniu com o ex-presidente Lula da Silva e passou a defender que o MDB o apoie já no primeiro turno das eleições presidenciais. Lula, naturalmente, é receptivo a tais manifestações e aproveita o ensejo para exercitar todo o seu pragmatismo político. Messiânico, ele está convencido de que é o único nome capaz de liderar um movimento amplo que derrote o bolsonarismo. E faz concessões porque conhece a trilha que ainda precisa seguir para reforçar a base de apoios na jornada de volta ao Palácio do Planalto.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba