De um lado os bolsonaristas apostam na “gritaria” para empurrar goela abaixo do Congresso a anistia que, na verdade, não objetiva livrar “coitadinhos” que agiram como massa de manobra do 8 de Janeiro, mas, sim, abrir janela para Jair Bolsonaro recuperar direitos políticos e candidatar-se novamente à Presidência da República em 2026. De outro lado, o cenário brasileiro registra o doloroso isolamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está longe, muito longe, de se repetir no exercício do terceiro mandato, administra uma crise econômica com picos de inflação e amarga o enfraquecimento político refletido na perda de popularidade até entre os que votaram nele, sem falar que o mandatário bate cabeça com falas desconexas, que compõem um anedotário de besteirol e que sinalizam uma fuga da realidade que tem que ser enfrentada com coragem e determinação.
Os próprios aliados do mandatário já reconhecem que o problema não é de comunicação do governo, mas de inação, de ausência de entregas de obras e de resultados à população. O governo está parado, não há recursos para investimentos, faz uma ciranda patética de cortes de gastos para dar uma satisfação à sociedade, mas está perdido, sem rumos concretos e sem perspectivas a oferecer, sendo atropelado, ao mesmo tempo, pela obsessão do próprio Lula em se preparar para uma quarta candidatura ao Palácio do Planalto em 2026, desprezando outras opções que poderiam ser içadas no espectro da esquerda em que ele milita. Acresce que o atual presidente é refém do Parlamento, principalmente da Câmara dos Deputados, que açambarcou o controle do Orçamento e deixou o Planalto de mãos atadas para definir prioridades e cumprir essas prioridades. A percepção entre aliados e adversários é que Brasília não tem o que oferecer, um cenário que estimula propostas golpistas de toda ordem. A oposição está “sangrando” Lula, acenando, mesmo, com o fantasma do impeachment, que divide opiniões, já que o próprio Bolsonaro acredita que Lula será facilmente derrotado nas urnas em 2026.
As reclamações se estendem à dificuldade de interlocução com o Congresso Nacional. De acordo com a “Revista Forum”, Lula tem recebido poucos deputados e senadores para reuniões, o que estaria travando a tramitação de projetos e prejudicando a governabilidade. O distanciamento do presidente tem gerado apreensão sobre a capacidade do governo de consolidar a sua base no Legislativo, afetando até mesmo a tramitação de pautas consideradas prioritárias. As queixas seriam direcionadas, principalmente, à forte influência do ministro da Casa Civil, Rui Costa que, na opinião de alguns congressistas, age como um filtro rígido entre o presidente e o Parlamento, fazendo com que muitas demandas se percam antes de chegarem a Lula. A situação tem gerado incômodo dentro do Parlamento, pois diversos parlamentares se queixam da dificuldade de acesso ao Planalto e da falta de retorno sobre demandas apresentadas. “A palavra de alguns deputados se perde nessa espécie de curva de rio, onde as coisas acabam por parar nele”, ressaltou um parlamentar da base, a título de ilustração.
Outros sustentam que a centralização excessiva das decisões na Casa Civil dificulta a resolução de problemas políticos diários, tornando o governo vulnerável a crises que poderiam ser evitadas. Além do mais, existe o receio de que essa forma de condução política leve a um acúmulo de insatisfação dentro da base governista, criando dificuldades futuras para Lula na aprovação de matérias fundamentais para o seu governo. A divulgação, ontem, de uma carta aberta pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, acirrou ainda mais o clima entre aliados do presidente. No documento, Kakay, que historicamente esteve próximo ao PT, afirmou que Lula está “isolado”” e “capturado” destacando uma mudança significativa em relação aos seus mandatos anteriores. O impacto da carta foi imediato no meio político e um congressista disse que “ele verbalizou aquilo que muitos já vinham falando nos bastidores”.
Em Brasília, já estão sendo feitas comparações sobre a situação atual do presidente Lula e o isolamento experimentado no segundo governo da presidente Dilma Rousseff, que acabou sofrendo um processo de impeachment e foi afastada do cargo. O isolamento de Dilma acabou comprometendo a relação do Executivo com o Legislativo e o temor é que o mesmo processo se repita com Lula, resultando em dificuldades crescentes para aprovar pautas essenciais e em um cenário de instabilidade política. “Hoje, vejo um cenário muito parecido com o da ex-presidente Dilma. O isolamento, a falta de diálogo…tudo lembra muito o início da crise que culminou no afastamento dela”, afirma um senador da base. O governo Lula não acabou, mas daqui a pouco o cafezinho começa a esfriar nos gabinetes do poder no Palácio do Planalto em Brasília.