“Aqui na Paraíba o PDT sempre foi aliado com o PSB e a gente pensa no futuro manter essa aliança,” foi o que declarou ontem Lígia Feliciano.
Se isso representa um passo para a mudança no quadro atual, que indica a permanência de Ricardo Coutinho no governo para viabilizar a candidatura de João Azevedo, nós não saberemos agora.
Quando foi anunciada a vitória de Ricardo Coutinho sobre o favoritíssimo e, até então, imbatível, Cássio Cunha Lima, a avaliação geral era de que sua companheira de chapa e vice-governadora eleita, Lígia Feliciano, do PDT, assumiria o governo na eleição seguinte, quando o titular do mandato renunciasse para ser candidato, provavelmente ao Senado.
Não só essa expectativa de Lígia Feliciano de assumir o governo era legítima, diga-se de passagem, como uma eventual candidatura sua à reeleição também.
O problema não está relacionado, portanto, à legitimidade de um projeto eleitoral como esse, próprio de quem entra para a política e exerce a atividade com dignidade, como até agora é o caso de Lígia Feliciano.
O problema é que, em eleição, não basta a vontade de ser candidato/a. Nas circunstâncias atuais em que a disputa política está cada vez mais polarizada em projetos em torno dos quais as principais forças políticas da Paraíba se reagrupam, é preciso que as candidaturas que representam forças sociais emergentes no estado expressem mais do que um significado para o eleitorado. Elas precisam guardar identidade com o projeto que representam.
Isso significa que, no caso de um/a candidato/a que se apresente ao eleitorado como representante do “projeto” iniciado por Ricardo Coutinho essa identidade não pode ser artificial.
Colocando a questão na forma de pergunta: o perfil político de Lígia Feliciano permite uma fácil associação com o projeto político-administrativo que RC lidera hoje na Paraíba?
E João Azevedo?
No caso de Lígia Feliciano não se trata da mesma situação, por exemplo, de Roberto Paulino, que assumiu o governo em 2002 com a renúncia de José Maranhão – os dois tinham origem, discursos e trajetórias políticas semelhantes e essa era a identidade que o relacionava. Bastou Paulino ser o “candidato de Zé”.
E mesmo ali, Paulino tinha plena consciência de que, para ser eleito, era preciso que houvesse unidade do grupo político em torno do seu nome.
Por isso, o candidato consensual do grupo maranhista era Ney Suassuna, mesmo com Roberto Paulino sentado na cadeira de governador. Paulino só assumiu essa condição quando Suassuna desistiu da candidatura e, também por isso, mesmo enfrentado a “novidade” Cássio Cunha Lima, quase vence a eleição.
Ricardo Coutinho representa não apenas uma “nova maneira de fazer política”, como ele mesmo diz, mas um novo eleitorado emergente, novas forças sociais que rejeitam cada vez a política identificada como “tradicional”.
Portanto, se RC quer mesmo disputar com chances de vitória o governo para dar continuidade a esse “projeto” ele precisa de um candidato que consiga estabelecer essa identidade ao mesmo tempo política e administrativa. Por isso, o perfil de João Azevedo cai como uma luva, além de não ter um perfil de “político tradicional”.
Se Lígia compreender isso pode desempenhar novos papéis na ocupação de outros espaços políticos de outra maneira e projetar-se para o futuro. Caso contrário, perderá essa grande chance que sua posição atual oferece.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Flávio Lúcio