OPINIÃO

João ganha tempo para escolher vice “in pectoris” na chapa à reeleição - Por Nonato Guedes

A briga aparentemente encarniçada entre os deputados federais Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (União Brasil) para indicação como pré-candidato ao Senado na base do governador João Azevêdo (PSB) causa um efeito colateral positivo para o chefe do Executivo: ele ganha tempo e tranquilidade para definir o nome “in pectoris” que será seu vice na chapa que encabeçará à reeleição no pleito de outubro. Não há, até agora, pressão ou disputa pelo posto de companheiro de chapa de Azevêdo. Tem sido especulado que o deputado que perder a queda-de-braço pelo Senado pode ser contemplado em cargo executivo, e Azevêdo insinuou, mesmo, que há espaço para ambos na composição. Mas Efraim já declinou da vice e Aguinaldo, segundo sua irmã, Daniella Ribeiro, já se considera “sacramentado” ao Senado.

Essa polêmica da senatória ainda vai render bons capítulos e já ensejou ilações de que seria um jogo combinado para ocupação de espaços e para desviar as atenções da oposição, confundindo-a na estratégia que empreende a duras penas para formar chapas competitivas com vistas a dar combate ao esquema influente do governador João Azevêdo. O fato é que Efraim e Aguinaldo têm monopolizado o noticiário e alcançado visibilidade na mídia como protagonistas de uma guerra nesta fase pré-eleitoral, valendo citar, no contraponto, que o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), lançado também como pré-candidato ao Senado, se impõe atualmente com mais frequência por casos negativos na Justiça do que por ideias ou apoios importantes como postulante a uma vaga no Congresso, que refugou lá atrás, mais precisamente em 2018, quando estava a um passo de encerrar o segundo mandato.

No que diz respeito à vaga de vice-governador na chapa de João Azevêdo, quem tem se mobilizado ostensivamente para conquistá-la é o deputado estadual Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, que possui ligações e influências políticas fortes em Campina Grande e regiões do interior do Estado, tendo ingressado recentemente no Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que pleiteia espaço na chapa majoritária a ser pilotada pelo atual mandatário. A confirmação do Republicanos na órbita governista estadual, se por um lado constituiu reforço para Azevêdo, por outro complicou o quebra-cabeças da montagem da chapa majoritária, que tem como vagas principais a vice e a de senador. As compensações seriam as suplências de senador, que não são desprezadas por partidos e políticos em negociações de fundo eleitoral.

O deputado Adriano Galdino apresenta como credencial maior para compor a chapa do governador, no papel de vice, a lealdade que lhe tem demonstrado no exercício de um cargo de grande relevância na hierarquia de poder na Paraíba. Do posto de presidente da Assembleia, Galdino tem atuado, efetivamente, no sentido de colaborar com a chamada “governabilidade”, mobilizando deputados em maioria suficiente para a aprovação de matérias de interesse do Executivo e pautando na ordem do dia de sessões ordinárias ou extraordinárias a votação de projetos que o Palácio da Redenção considera imprescindíveis. Todo este esforço tem sido executado em plena vigência da pandemia de covid-19, com a proliferação de medidas restritivas que o próprio governo do Estado é obrigado a tomar para conter a disseminação do novo coronavírus. O esforço de Adriano não tem passado desapercebido ao governador, que a ele já se referiu, em tom de agradecimento, em diferentes ocasiões.

Quem conhece a dinâmica dos trabalhos legislativos, quer na Paraíba, quer em Brasília, que é o centro nacional do poder, atesta que a governabilidade, inclusive, no aspecto institucional, depende, muito, das Mesas que comandam os colegiados legislativos – como, por exemplo, no Senado Federal ou na Câmara dos Deputados. Nos Estados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais respondem por responsabilidades constitucionais inerentes ao princípio da governabilidade. Até em questões graves, como a do impeachment do presidente da República, a Câmara é fundamental – e disso pode dar testemunho Jair Bolsonaro, que desde a gestão de Rodrigo Maia, e agora com Arthur Lira, tem escapado, incólume, aos ensaios para apeá-lo do poder. Na Paraíba, mercê da ação diligente do presidente Adriano Galdino, ainda recentemente foi aprovado o polêmico reajuste salarial concedido pelo governo e que desagradou categorias do funcionalismo público quanto aos percentuais oferecidos.

Em tese, o deputado Adriano Galdino corre isolado na maratona para ser escolhido vice do governador João Azevêdo à reeleição, mas não se descarta que haja pretendentes “ocultos”, não necessariamente enfileirados na Assembleia Legislativa, mas em outras “franjas” do círculo de poder da Paraíba. Em uma última análise, mais do que em relação à vaga ao Senado, o poder do chefe do Executivo é incontestável na definição do companheiro de chapa que vai dividir com ele ônus e bônus de uma campanha eleitoral renhida, que marcará a projeção de Azevêdo como novo líder de um agrupamento político no Estado, dividindo território com antigos aliados que se converteram em adversários, a exemplo do antecessor Ricardo Coutinho. Não é improvável que o governador já tenha mapeado preferências em relação a esse posto. Mas o debate a respeito está como que interditado para não provocar interferências indevidas ou tentativas de imposição de pseudos-aliados. Na questão da vice, Azevêdo parece trilhar em céu de brigadeiro, dentro dos prazos de validade impostos pelo próprio calendário eleitoral…

Fonte: Os guedes
Créditos: Polêmica Paraíba