
Paraíba - Mais do que ser cauteloso quanto à novidade anunciada, o governador João Azevêdo (PSB) parece apostar fichas no fiasco da possível federação entre o Partido Progressista (PP) e o União Brasil, apesar de líderes nacionais das duas siglas já terem dado partida ao processo de união com vistas às eleições de 2026. O chefe do Executivo se atém, especificamente, à realidade da Paraíba quando diz que é preciso aguardar os acontecimentos e não falar sobre hipóteses. Ele tem o mapeamento da realidade local, onde PP e União Brasil estão alinhados em esquemas divergentes, com o primeiro aliançado com o esquema do próprio governador e o segundo claramente vinculado ao bloco de oposição na Paraíba, que além do senador Efraim Filho agrega o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, ex-PSDB, hoje no PSD, e o senador Veneziano Vital do Rêgo, que comanda o MDB. João, na verdade, acompanha com interesse as tratativas, mas identifica dificuldades para a concretização do empreendimento.
Os obstáculos ocorrem em vários Estados, e as cúpulas nacionais tentam contorná-los em nome do objetivo maior de “anabolizar” uma federação que chegue reforçada ao pleito do próximo ano, com grande número de deputados federais e senadores, candidaturas fortes aos governos estaduais, perspectiva de incremento dos recursos do fundo partidário, além de espaço amplamente generoso para a propaganda política-eleitoral. No que se refere ao governador João Azevêdo ele se prepara para liderar um partido que nem de longe é mencionado para compor a referida federação, não lhe movendo, portanto, nenhum interesse em se imiscuir nas tratativas que testam a viabilidade da empreitada. Acresce que o PP, além de integrar sua base no Estado, tem a possibilidade de indicar candidato a governador dentro do esquema comandado por João Azevêdo, na pessoa do vice-governador Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella e que tem a perspectiva de estar no comando da máquina em plena disputa, a se confirmar a desincompatibilização do governador para concorrer a uma vaga ao Senado, hipótese já classificada por João como “Plano A” na ordem de suas prioridades para o futuro político.
O que se nota, desde que eclodiu no radar a possibilidade de formação da federação, é que o senador Efraim Filho fala e se articula mais, inclusive, reivindicando o comando do novo bloco do que o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, tio de Lucas, que comanda o PP na conjuntura local e que tem se mantido silente a respeito da composição com Efraim, enquanto busca se inteirar, nos bastidores, sobre o ritmo da mobilização ensaiada e sobre as chances concretas de prosperar uma nova realidade no quadro político paraibano como efeito colateral de uma suposta deliberação nacional de cúpulas. Da mesma forma, o vice-governador Lucas Ribeiro dá calado por resposta às especulações de união, enquanto, em outra frente, costura promessas de apoio a uma virtual pré-candidatura sua ao Palácio da Redenção. Não é apenas Efraim que percorre os mais diferentes municípios e regiões da Paraíba em notória pré-campanha ao Executivo. O próprio Lucas evidencia sua imagem e cria expectativas de poder ao participar de eventos administrativos na Capital e no interior do Estado, massificando o projeto eleitoral que nunca escondeu.
Entre expoentes do PP e junto a aliados do governador que militam em outros partidos há reação ao que consideram imposição da parte do senador Efraim Filho no sentido de assegurar para si o controle da federação e, por via de consequência, legitimar o projeto da candidatura ao Palácio da Redenção em 2026. O senador nega que esteja fazendo imposição descabida e justifica que, na verdade, trabalha com a correlação de forças que, a seu ver, favoreceria o União Brasil no comando da federação na Paraíba. Além do mais, garante que está pronto tanto para dialogar como para se submeter a pesquisas de opinião pública que tenham o condão de aferir potencial eleitoral para a disputa majoritária. Ora, na própria oposição paraibana não está definido previamente que o senador Efraim Filho será mesmo o candidato nas eleições de 2026 a governador, pois o ex-deputado Pedro Cunha Lima sente-se constantemente motivado a, novamente, ir à disputa, baseando-se na votação expressiva que o levou para o segundo turno contra João Azevêdo em 2022. Políticos próximos a Pedro também avaliam que a oportunidade de concorrer seria dele, até como revanche pela derrota que acabou contabilizando no embate contra João Azevêdo, que postulava a reeleição com o apoio da máquina administrativa.
A falta de um entendimento sobre candidatura ao Executivo no âmbito da federação, nos domínios do território paraibano, é apontada como o maior empecilho para a união de PP e União Brasil, que já estão, respectivamente, com os nomes de Lucas Ribeiro e de Efraim Filho nas ruas para a sucessão estadual. A situação se agrava com a disputa pelo comando da federação e com a complexa engenharia política que terá que ser montada por todo o Estado para conciliar líderes que até aqui têm se enfrentado na conjuntura majoritária da Paraíba. Efraim Filho tem pressa em equacionar as coisas de modo a ser favorecido nas suas pretensões pessoais, mas o “clã” Ribeiro que está à frente do Partido Progressistas e o próprio prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, também lembrado como pré-postulante ao governo, querem garantias mais concretas de que não serão escanteados na hipótese de terem que se aliançar com adversários de hoje. Pelo visto, ainda haverá muito questionamento no meio desse enredo de formação de federação partidária para a disputa de 2026.