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INIMIGO ÍNTIMO- O poder de Bolsonaro não defende o militarismo, mas alimenta o crime - Por Marcos Thomaz

É fácil, mais que isso, óbvio, compreender o alinhamento de miliciano, policial corrupto, truculento

É fácil, mais que isso, óbvio, compreender o alinhamento de miliciano, policial corrupto, truculento ao bolsonarismo!

Mas, o que leva militares honestos, zelosos e ciosos da missão que cumprem, a apoiar um governo de extermínio de tudo, como esse?

Não tenho a resposta precisa, afinal esbarramos, além de questões corporativas, coletivas, em variáveis individuais, mas é inegável a força de bloco, de identidade classista a determinar esta afinação.

Não esqueçamos que o ideal de MITO nasceu intramuros militares (consulte “A República das Milícias”) e dali se propagou.

Uma clara e eficaz estratégia de uso de “propaganda de guerra” em ambiente afeito a radicalismos, heroísmos, belicismo e por aí vai…

Mas, na prática, porque esta adesão em bloco ao bolsonarismo por núcleos militares?

E quando lanço a questão, estou tratando da base da pirâmide (soldados, cabos) e não da cúpula, devidamente contemplada com cargos no alto escalão. Por sinal, o bolsonarismo é responsável por abrigar mais militares do que períodos dentro do próprio Regime Militar.

Voltando ao ponto de partida…

Inevitável creditar a principal parcela desse alinhamento a desinformação.

Ludibriados pelo sibilo traiçoeiro da cobra acabaram por chocar o “ovo da serpente”.

E podemos, em poucas linhas, desconstruir estes “mitos” em torno da alma militar do bolsonarismo…

Ele e seu clã sempre construíram o imaginário político direcionado a esse nicho.

Também salta aos olhos do observador astuto o quanto Bolsonaro e seus descendentes se valem deste legado político usando recursos de fachada.

Exploram imagens, distorcem valores, se apropriam de canais, se auto-declaram porta vozes oficiais do militarismo.

Mesmo sem qualquer ação efetiva para melhoria da atividade, realidade, ou condições de trabalho desses agentes da lei.

Esqueçam as frases de efeito, arroubos retóricos baratos, fraternidade aparente.

Ignorem as aparições em eventos de formatura de turmas de PMs em diversas partes do país e falas de impacto em simulada defesa da categoria.

Apenas um pacote fraudulento.

Afinal, o que isso traz pragmaticamente de melhoria as corporações?

Na realidade as “grandes ações” práticas desempenhadas por Bolsonaro em relação ao militarismo são no mínimo controversas, para não dizer criminosas.

A primeira é anterior a sua entrada na política, quando ainda ocupava as hostes militares.

O planejamento de atentado a bomba contra quartéis, que determinou, inclusive sua expulsão do Exército.

Sim, é isso mesmo, caveiras, obstinados policiais, “sangues no olho” e afins, vocês apóiam incondicionalmente, dão carta branca a um militar expulso, que envergonhou a farda e instituição que vocês tanto honram e exaltam!

Mais que isso, esse venerado Bolsonaro queria explodir sedes oficiais do exército.

Não a toa foi apelidado de “capitão das bombas”.

Além, muito além…

A família Bolsonaro é aquela que em trocentas ocasiões usando plenário parlamentar fez menções, ou rendeu homenagens oficiais a milicianos (apenas o 01, Flávio Bolsonaro, em seu primeiro mandato tem centenas de pronunciamentos, honrarias, condecorações a policiais presos por corrupção).

Quem não lembra do fato de que vários membros da família do “maior matador” carioca, Adriano, eram empregados no gabinete de Flávio?

O próprio Flávio, quando deputado estadual, concedeu medalha de honra ao famoso miliciano enquanto este estava preso, atrás das grades.

Acha absurdo?? E imaginar que o presidente, então deputado federal, se debandou de Brasília às pressas para protestar contra a prisão do criminoso, a quem chamou de herói?!? Não por acaso, Adriano era habituè, figurinha carimbada em visitas ao condomínio onde reside o presidente Bolsonaro, que fazia vizinhança também com Ronnie Lessa, aquele acusado de matar Marielle e por aí vai…

Aliás, é dessas relações do clã Bolsonaro que surgem projetos como “Excludente de ilicitude”!

Nada mais do que uma licença para matar, destinada a grupos de extermínio, facções de matadores com quem a família mantêm laços umbilicais desde sempre.

E você, bom soldado, embarcando em propaganda massiva, discursos coordenados, vibrando com o que entende ser um instrumento de proteção a sua atividade?

Ledo engano.

O que este governo faz é fomentar o crime organizado direta e indiretamente.

Armar até os dentes e poderosamente aqueles bandidos que você, policial honesto, vai se deparar em confronto.

Afinal, o que significa liberar indistinta e descontroladamente, certidões de Colecionadores, Atiradores e Caçadores, os conhecidos CACs?

Para que ampliar acima de milhares de munições por ano o direito de aquisição através de cada licença?

Pelos decretos bolsonaristas, algumas pessoas podem adquirir até uma centena de armas, incluindo fuzis, e dezenas de milhares de munição anualmente!

E muitos destes armamentos adquiridos legalmente já estão no destino conhecido dos Bolsonaro, ou lugar comandado por pessoas que a família admira: o crime organizado.

Os decretos presidenciais criaram um mercado clandestino de armas para facções no Rio de Janeiro, conforme apontam investigações da polícia e revelou matéria exibida no Fantástico, da Rede Globo.

Essas armas de todos os calibres, despejadas via canal oficial aberto pelo governo Bolsonaro podem se transformar naquela que vai disparar o tiro mortal de um policial em confronto com criminosos.

O debate, o drama coletivo nacional é muito maior do que um simples “faz arminha aí”.

Fonte: Marcos Thomaz
Créditos: Polêmica Paraíba