Opinião

Hugo Motta mostra firmeza, “enquadra” deputados e impõe autoridade - Por Nonato Guedes

Hugo Motta
Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados

     Se a balbúrdia provocada por deputados federais bolsonaristas e lulistas no plenário da Câmara, em momento de ausência do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB) foi um teste para colocar à prova a autoridade do parlamentar, pode-se dizer que o mais jovem presidente da história da Câmara foi aprovado “com louvor”. Alertado sobre o ambiente de bagunça reinante, ele retomou o comando dos trabalhos, solidarizou-se com a deputada que estava no exercício do posto e ameaçou cumprir à risca o regimento interno, com aplicação do Código de Ética, para punir quem quer que estivesse envolvido no “furdunço”. Bem ao seu estilo de nordestino lançou um repto aos que tentaram desafiar o comando da instituição, deixando claro que não é “um homem frouxo” nem se deixa levar por intimidações de quem quer que seja. Hugo Motta, além de mostrar firmeza, evidenciou que não será complacente com atitudes antiéticas e antidemocráticas.

         Em ocasiões anteriores, Hugo Motta já vinha dando pistas do seu estilo de ação e do seu próprio temperamento no trato das relações interpessoais. Revelou ao país a sua faceta focada no diálogo até a exaustão em torno de temas polêmicos como estratégia para extrair consensos ou concessões. Mas avisou que essa vocação para o diálogo não significava falta de pulso para tomar decisões, por mais graves que sejam, relacionadas ao bom funcionamento do Parlamento, com cuja integridade se comprometeu no seu discurso de posse em que fez um enunciado das prerrogativas do Poder e, também, das suas limitações na ordem democrática. O discurso de posse de Hugo Motta foi uma espécie de bússola, de “carta de navegação” para orientar seus passos na condução dos desafios que lhe aguardam. Foi dele esta avaliação: “Entendo esta Casa e este plenário como um gigantesco e poderoso oceano. E o presidente não comanda o mar, apenas conduz o barco”.

             Esse tipo de exegese aplica-se perfeitamente ao perfil do deputado do “Centrão”, que procura pautar sua vida parlamentar longe dos extremos ou radicalismos políticos e ideológicos que contaminaram o país nos últimos anos, a partir da polarização ensaiada entre bolsonaristas e lulistas, substituindo com agressividade o confronto que opôs, durante muito tempo, o Partido dos Trabalhadores (PT) ao PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Hugo, que já militou nos quadros do MDB, partido de grandes referências como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, aprendeu rapidamente as nuances ou sutilezas do jogo político, que se sustenta em avanços e recuos, uma dosagem que é proporcional aos decibéis dos embates ou à força dos argumentos das partes que se envolvem em porfia democrática. Para ele, o campo dos conflitos é o campo das ideias, com respeito às opiniões divergentes, possibilitando-se a polifonia de vozes de todas as correntes ou dos representantes de todas as tendências legalmente aptas a participar do jogo. Assim é a democracia.

               O deputado Hugo Motta não aparenta viés autoritário na formação de sua carreira política nem demonstrou, até agora, qualquer ambição personalista, de centralizador. Pelo contrário, uma das primeiras providências administrativas adotadas desde a sua investidura na presidência do Parlamento, sucedendo ao deputado Arthur Lira, do PP-AL, consistiu em restabelecer a deliberação colegiada, traduzida em reuniões constantes do Colégio de Líderes, onde não somente as pautas legislativas são definidas mas onde são aceitas sugestões e propostas que objetivem, concretamente, contribuir para aperfeiçoar o processo político e de tomada de decisões por parte da Câmara. Tem, ele, plena consciência dos amplos poderes que a Câmara incorporou ao longo dos anos na atividade legiferante, com incursões até mesmo pela execução do Orçamento Geral da União em clima de entendimento com o Executivo. Para Hugo, o Parlamento não açambarcou competências de outros Poderes institucionais – apenas recuperou o que havia perdido, nos escaninhos de repetidas legislaturas onde o Executivo, especialmente, mas, também, o Judiciário, avançaram no território das decisões de urgência urgentíssima sobre a conjuntura brasileira. A exposição dessa sua visão do Parlamento foi feita de forma didática no discurso de posse, após a consagradora votação que alcançou entre seus pares.

                 O incidente desta semana que obrigou o parlamentar paraibano a uma intervenção profilática cristalizou-se em meio às repercussões do inquérito da Procuradoria-Geral da República sustentando a teoria da tentativa de golpe de Estado na história recente do país, em que foram inquinados, entre outros, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como espécie de líder de uma organização criminosa empenhada em desestabilizar o Estado de Direito e reimplantar a ditadura, da qual Ulysses Guimarães disse ter nojo e ódio, o que foi repetido por Hugo Motta no discurso de investidura. A gestão do parlamentar do Republicanos será pontuada pelo respeito aos votos dos deputados no Plenário sobre quaisquer assuntos em pauta, mas esse modelo de democracia dispensa provocações e arruaças dos que tencionam, na verdade, perturbar a ordem ao invés de exercer suas responsabilidades para com o povo brasileiro.