Atentando bem para sua história, o Hotel Globo, no belíssimo e tocante Largo de São Frei Pedro Gonçalves, já nasceu fadado a um tempo reduzido de sucesso como alojamento de luxo. Não que suas acomodações fossem inadequadas. Para a época, e para a falta de bons hotéis na capital paraibana, o Globo era um luxo. Contudo, em 1929, quando foi construído, sua maior razão de existir, o Porto do Capim, se encontrava a caminho da desativação. A opção Cabedelo estava bem mais próxima de se afirmar como abrigo preferencial a navios e cargas na Paraíba, o que finalmente acabou sendo oficializado em 1935. Porém, já em 1929 o Porto do Capim se mostrava claramente sem futuro, desfecho acelerado pela desmoralização provocada pela roubalheira do início da década de 1920 quando, no governo federal de Epitácio Pessoa, comeram, nas plagas paraibanas, muito dinheiro público para, ao cabo, a turma responsável edificar ou mesmo consertar, além de umas estacas que ainda hoje estão no fundo do Sanhauá, rigorosamente nada no vetusto porto. Já em finais do século XVIII, ainda na época do Império, as indicações técnicas de engenharia apontavam para a necessidade de construção do porto de Cabedelo. O velho cais do Varadouro apresentava sérios problemas de assoreamento, considerados irreversíveis. Então, quando o Hotel Globo foi construído, o Porto do Capim, que lhe servia de inspiração financeira, por conta de viajantes que por mais de 300 anos iam e viam por seu intermédio, já estava inapelavelmente condenado à desgraça. E, da mesma época, o Paraíba Palace Hotel já era uma realidade cada vez mais promissora. Portanto, não foram muitos os anos de vida do Globo como um hotel de luxo de grande ascendência na cidade. Relatam os historiadores que entre servir como hotel ou, depois de sua inviabilização como tal, na versão de ambiente de luxo para festas da elite pessoense, o prestígio do Globo se esgotou com o início da década de 1950. Depois, veio o abandono que atingiu a beleza e a estrutura do prédio, uma obra em estilo eclético, misturando as escolas Neoclássica, Art Nouveau e Art Decó. Até que na década de 1990 houvesse a restauração do prédio, restabelecendo-lhe o charme original e capacitando-o como local privilegiado a visitações turísticas e abrigo de iniciativas culturais relevantes. A vista do rio Sanhauá e de fração ainda preservada do ecossistema primitivo, a partir das sacadas que servem aos pátios externos do Hotel Globo, especialmente durante o pôr do sol, continua sendo uma experiência visual que transcende o tempo, ligando os visitantes ao suntuoso patrimônio cultural e natural da região.
Fonte: Sérgio Botêlho
Créditos: Sérgio Botêlho